Na trincheira dos trabalhadores informais, um evento histórico está sendo construído para o dia 1º de julho: uma paralisação nacional entre todos os entregadores de aplicativos de “delivery”. A convocação está sendo chamada por entregadores de diversos estados do Brasil e surge na esteira de uma série de manifestações por parte da categoria.
A convocação é unitária para todos os trabalhadores vinculados às grandes empresas de entrega, como Rappi, iFood, UberEats, Loggi, James. A proposta é angariar força para combater às condições precárias de trabalho.
Nesse ramo, boa parte dos “empreendedores” chegam a trabalhar até 10 a 12 horas por dia — em casos excepcionais, a jornada de trabalho pode ser prolongada por 15 a 19 horas em dias em que o aplicativo remunera mais, como finais de semana e dias chuvosos.
Mas o salário não condiz com tamanha intensidade de trabalho. Uma pesquisa realizada em 2019 indicou que os entregadores ciclistas recebem em média R$ 936,00 por mês (menos do que um salário mínimo). Entregadores de moto chegam a receber R$ 1,5 a 2,4 mil por mês.
Além de extensas jornadas e baixos salários, os trabalhadores não têm qualquer assistência ou segurança. Em caso de acidente, perda ou até mesmo morte a responsabilidade é única e exclusiva do entregador e de sua família.
Por conta dessas condições, diversas paralisações e protestos locais têm ocorrido nos últimos anos. Nos últimos meses, porém, a luta dessa categoria tem ganhado ainda mais destaque devido à piora das condições de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus. Durante o isolamento social, a demanda por serviços de entrega aumentou, mas, mesmo com o aumento de pedidos, muitas das empresas não fornecem sequer os equipamentos de proteção necessários.
Na última sexta-feira (5), entregadores de moto e bicicleta de diversos aplicativos realizaram uma manifestação em São Paulo, em frente ao MASP. Os trabalhadores reivindicaram fim da pontuação, melhores valores na corrida e taxa mínima e fim dos desligamentos sem motivo.
Por razões como essas, a proposta de motoboys e entregadores de bike de diversas cidades é “brecar tudo” no dia 1º de julho (quarta-feira) a partir das 9 horas da manhã. O chamado tem se espalhado por diversas cidades do país.
A proposta é inédita no Brasil e pode resultar num incremento de força por parte dos trabalhadores para reivindicar melhores condições frentes às grandes empresas.
Em 2018, os caminhoneiros — outra categoria de trabalhadores majoritariamente informais — realizaram uma greve nacional durante 10 dias que permitiu aos mesmos conseguir reivindicar minimamente por melhores condições de trabalho e remuneração.
Entregadores de app, caminhoneiros, empregadas domésticas, motoristas de Uber e 99 pop, entre tantos outros, fazem parte do conjunto de trabalhadores informais. Atualmente, mais de 41% da força de trabalho no Brasil é composta de informais. As características comum desses trabalhadores são o alto grau de exploração e a ausência de qualquer amparo legal.
Trabalhadores como os entregadores de “delivery” não têm direito à férias remuneradas, décimo terceiro, vale-refeição, transporte, seguro-desemprego, auxílio-doença, salário-maternidade, repouso semanal remunerado, abono salarial ou qualquer outra medida que permita condições mínimas de trabalho.
Desvincular o trabalhador da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite auferir maiores ganhos às empresas como Uber, Ifood, 99Pop, Loggi, Rappi, entre tantas outras. Só em 2019, a Uber faturou R$ 3,7 bilhões. A contrapartida está nos ombros de quem produz esse valor diariamente, que não tem qualquer segurança.
Se tomar corpo em todo o país, a paralisação nacional chamada para 1º de julho pode modificar a correlação de força entre esse conjunto de trabalhadores e as grandes empresas que os exploram.