Notícia
UFSC: Greve denuncia degradação da infraestrutura da universidade
Os técnicos administrativos em educação da UFSC estão em greve desde o dia 04/04/22. Os trabalhadores entraram em greve buscando contribuir na luta unificada dos servidores públicos federais pelo reajuste salarial de 19,99%.
Mas, o movimento também luta por pautas internas importantes para universidade: contra o aumento do passe do restaurante universitário para os servidores (que iria de R$2,90 para R$13), e que na avaliação da greve abriria também o caminho para o aumento do passe para os estudantes; contra a implementação do teletrabalho via a Instrução Normativa 65 de Bolsonaro.
A greve também está denunciando a deterioração da infraestrutura da UFSC, especialmente do campus Trindade. Os trabalhadores apontam desde problemas de manutenção predial até problemas hidráulicos e elétricos.
No decorrer da greve, durante as passagens nos setores, os trabalhadores encontraram situações degradantes para o trabalho e estudo no campus: mofo nas paredes, infiltrações, forro caindo, pisos quebrados, falta de água, alagamentos e infestações de insetos são apenas alguns dos problemas. Por isso, o comando de greve coletou denúncias dos trabalhadores sobre os setores de trabalho e compôs um dossiê (veja abaixo algumas denúncias e fotos) dos problemas de infra-estrutura do campus.
Há problemas sérios em diversos espaços: no Hospital Universitário, na Biblioteca Central e nas setoriais em centros de ensino, na Reitoria 1, laboratórios, etc. Uma preocupação grande dos trabalhadores é com os blocos modulados do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM). O local é conhecido no campus como o “labirinto do minotauro”. E seus problemas de infraestrutura chamam a atenção da comunidade universitária há muitos anos. A greve está reivindicando a realocação imediata de todos os trabalhadores e estudantes daquele espaço, tendo em vista os riscos para trabalhadores e estudantes.
Em 2019 trabalhadores da Secretaria de Obras e Manutenção produziram um laudo sobre o prédio, indicando que a edificação possui “más condições de conservação e apresenta riscos aos usuários”. Dentre os principais riscos está a deterioração dos pilares.
Alerta-se que existe risco real de falha de pilares de alvenaria em vários dos prédios analisados e que como todos os blocos foram executados com a mesma técnica e os mesmos materiais, pode-se deduzir que o risco se estende a todos os blocos analisados. Este problema demanda atuação imediata dos envolvidos (Direção do Centro, Administração Central, SEOMA, etc.)
O local está em funcionamento sem possuir Projeto Preventivo Contra Incêndios (PPCI) aprovado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina […] Considerando que a região dos blocos, que possui diversas salas de aulas, laboratórios e salas administrativas, é uma área de uso constante de um número elevado de usuários, a necessidade de se regularizar a situação perante o CBM/SC torna-se outra questão que demanda celeridade da UFSC na busca de uma solução;
Trecho da página 116 do Parecer Técnico: Situação Estrutural dos Blocos Modulados do Centro de Ciências Físicas
e Matemáticas – CFM
Indica também que a reforma do espaço seria difícil e onerosa e recomenda sua demolição:
Dado que os problemas estruturais estão espalhados por quase toda a edificação, sua recuperação completa seria uma operação bastante onerosa, demorada e complexa, dado que a edificação já é antiga e encontra-se bastante desgastada pelo uso e pelo tempo. Dessa forma, essa recuperação tende a ser tecnicamente inviável; […]
Inviabilidade de adequação do prédio às exigências normativas do Corpo de Bombeiros (pois para apresentação do projeto ao CBM/SC, é obrigatório que se apresente um projeto que inclua toda a área dos blocos, em todas as suas especialidades como sinalização de rotas de fugas, GLP, SPDA, grupos extintores, etc.)
Trecho da página 116 do Parecer Técnico: Situação Estrutural dos Blocos Modulados do Centro de Ciências Físicas
e Matemáticas – CFM
Para Renato Ramos Milis, Psicólogo Escolar da UFSC e do comando de greve dos técnicos, a situação reflete a crise universitária: “Na greve nós fomos encontrando esses problemas nos centros, setores e laboratórios e a explicação da administração que parece ter colado no senso comum é de que a deterioração seria um efeito dos dois anos de pandemia, tendo em vista a desocupação do campus e as dificuldades de realizar manutenções prediais. Mas nós entendemos que é muito mais sério do que isso. É um sintoma de um projeto de reconfiguração da universidade pública. Com o estrangulamento orçamentário das universidades às obras novas, reformas e manutenções sofreram também efeitos. Mas nós não vemos uma situação tão drástica naqueles setores da universidade que estão comprometidos com projetos, parcerias-público-privadas, descentralização de recursos de ministérios, emendas parlamentares e afins. Estamos assim, porque há um projeto de calar o caráter crítico da universidade brasileira e torná-la apenas uma prestadora de serviços. É contra esse projeto que lutamos hoje!”
Estudantes também têm denunciado problemas nos centros. No Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) há denúncias sobre a falta de água, banheiros, bebedouros, a falta da lanchonete, entre outros problemas.
Na biblioteca central uma área foi interditada por risco de desabamento do Chiller (um equipamento do sistema de refrigeração central). Além disto, há diversos problemas de manutenção, nos forros, banheiros, bebedouros, aparelhos de ar condicionado. Já no Centro Cirúrgico do Hospital Universitário os trabalhadores enfrentam goteiras e problemas na instalação elétrica – tendo que trabalhar com os fios passando no meio da área cirúrgica.