Sob pressão do TST, greve dos metroviários do DF completa 11 dias
Tribunal Superior do Trabalho exigiu que sindicato mantivesse 80% das linhas de trem
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
29 de abril, 2021 Atualizado: 21:35
Os metroviários do Distrito Federal estão há 11 dias em greve mesmo sob forte ataques da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF). A empresa tem usado do aparato estatal para obrigar a circulação de boa parte dos trens, sob risco de elevadas multas ao sindicato.
Os trabalhadores da categoria se organizam através do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do Distrito Federal (SindMetrô-DF). Os ataques ao sindicato começaram logo no primeiro dia da greve
No final da semana passada, em nova investida, a empresa conseguiu ampliar o percentual mínimo de trens em circulação. No sábado (24), os metroviários decidiram em assembleia cumprir com a nova decisão do Tribunal Superior do Trabalho de aumentar o percentual de funcionamento para 80% nos horários de pico e 60% nos demais horários.
Isso significa que 19 dos 24 veículos circulam entre 6h e 8h45 e das 16h45 às 19h30.
Caso os metroviários mantenham a greve sem a circulação mínima, será infligido ao sindicato uma multa de R$ 100.000,00 por cada dia de descumprimento. Tem sido comum o uso da Justiça pelo patronato para atacar o direito à greve, através de exigências que na prática reduzem o poder de barganha dos grevistas.
Devido aos impactos à cidade, uma paralisação total dos trabalhadores do metro exigiria uma negociação rápida por parte da empresa. Com a manutenção de 80% dos trens em horários de pico, a companhia consegue desgastar gradualmente o movimento grevista.
Em 2019, a categoria realizou uma greve de 77 dias, a maior greve da história do metrô. A greve foi encerrada não por vitória do sindicato, mas por determinação do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região.
Os empresários da companhia aguardam uma resposta dos metroviários acerca da proposta enviada para a categoria. Mas o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) enviado pela empresa não contém novas propostas, logo não há o que ser votado.
Segundo o secretário de Relação Sindical do SindMetrô-DF, Hugo Lopes, “a única forma de resolver é se a empresa entrar com dissídio de greve e deixar a Justiça resolver. Eles não entram porque querem massacrar os trabalhadores e, com isso, também a população. A única culpada pela greve é a direção do Metrô-DF, que não assinou acordo da mesma forma como antes”.
Os metroviários lutam contra o corte do auxílio-alimentação, de R$ 1,2 mil, e exigem o ressarcimento de descontos ilegais da greve de 2019, que até hoje não foram devolvidos. Os trabalhadores também exigem condições de higiene e segurança.
A deliberação pela greve acontece um dia após a morte de Paulo de Ávila Silva, 47 anos, companheiro metroviário do DF, que morreu em decorrência da Covid-19.
Mesmo após a morte de um dos funcionários por Covid-19, a companhia ousou dizer que a greve seria um risco para a saúde pública, neste momento da pandemia. Para os empresários da companhia, “a greve dos metroviários coloca em risco a saúde pública e o esforço coletivo de governo e da sociedade, que há mais de um ano combate os efeitos devastadores da covid-19”.
Na verdade, o acordo foi engado pelo governador, conforme explica o secretário Hugo Lopes. “Nós aceitaríamos a proposta feita pelo presidente do tribunal, que era prorrogação do acordo coletivo, mantendo todos os benefícios. E o governador não aceitou. Ele não está nem um pouco preocupado com a população”, explica.
“Quem está levando a gente para a greve é o governador Ibaneis. Nós só queremos que assine o Acordo Coletivo (AC). Abrimos mão até da escala, só da sentença normativa. E a população que sofre, infelizmente. E nós também, que não queríamos optar pela greve”, frisou Hugo Lopes, secretário de relação sindical do SindMetrô. A principal reivindicação da categoria é o restabelecimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Aumento na morte dos trabalhadores da linha de frente
Segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), houve um aumento nas mortes de trabalhadores ligados a atividades essenciais comparando os meses de janeiro e fevereiro de 2021 com o mesmo período no ano anterior.
Em matéria ao UàE, Nina Matos mostra que “dentre as 10 ocupações que mais registraram mortes, 4 tiveram um aumento maior que 50% comparando o mesmo período em 2020 e 2021. Trabalhadores que possuem maior contato com o público, como motoristas de ônibus urbano, operadores de caixa e frentistas, tiveram, respectivamente, 62,5%, 67,9% e 68,2% mais mortes registradas em comparação com um momento pré-pandemia e o atual cenário brasileiro”.