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Painel do Leitor | O mito de Atlas e a Meritocracia

Meritocracia e divisão da sociedade em classes
Imagem: Montagem UàE – Foto Estátua de Atlas/Pixabay
23 de julho, 2021 Atualizado: 15:09

Confira a contribuição de Henrique da Silva dos Santos, graduando da 10ª fase da graduação em Psicologia para o UàE. Ele debate a meritocracia e a divisão da sociedade em classes sociais.

A busca pela sobrevivência em nossa sociedade faz com nos tornamos escravos do capitalismo. Ficamos presos ao trabalho, ao estudo, ao dinheiro, e deixamos de aproveitar os momentos importantes da vida. Sentimos se estivéssemos carregando o mundo nos ombros, acorrentado às amarras invisíveis do sucesso, loucos pelo status e pelo reconhecimento, não importa o quanto batalhamos, nunca é suficiente. O que me fez lembrar o mito de Atlas ou Atlante, no qual era um dos titãs que entraram em guerra contra os deuses do Olimpo e, depois da derrota, foi condenado a sustentar nos ombros o peso do céu (BULFINCH, 2002).

Voltando para os dias de hoje, a elite implantou a ideia de meritocracia no inconsciente da classe média, que justifica seus privilégios com “lutei para conseguir”, não importa o quanto se prove o contrário, os privilégios não fazem parte do vocabulário desta classe social. Não importa se sempre teve acesso à cultura e a educação de qualidade, não importa se os pais investiram pesado em seus estudos, para que conseguisse ingressar em uma ótima faculdade pública, a classe média “lutou” para conseguir. Além disso, a meritocracia está relacionada ao nepotismo nas empresas, “politicas de reciprocidade”, “QI (Quem indica)”, “apadrinhados” (BARBOSA, 2014), no qual não fazem relação alguma com mérito de fato, mas sim com privilégios.

A mercê destes privilégios estão as classes mais populares de nossa sociedade, infectada pela ideia de meritocracia, se culpam, pois não conseguem a tão sonhada vaga na faculdade pública, tão pouco o trabalho dos sonhos, com o reconhecimento desejado. Esses indivíduos se afundam em trabalhos no qual são infelizes, para ganhar o suficiente para sobreviver, ou às vezes, nem isso.

A classe popular quer ser reconhecida, que ser vista como seres humanos, para isso compram roupas caras, financiam carros, trabalha oito ou doze horas por dia, para conseguir pagar uma faculdade. E quando se dá conta, o peso do mundo está sobre seus ombros, os boletos, a exaustão física e mental, a sobrecarga do trabalho, a cobrança dos patrões e familiares. Porém, não pode soltar o peso, pois está presa a busca pelo sucesso.

O pobre precisa “luta” para conquistar, mas a luta nunca é justa, sempre a classe média está em total vantagem, mas é o pobre que se torna o bode expiatório do sistema, é ele e somente ele que é culpabilizado pela sua situação, é ele “que não lutou o suficiente”. A meritocracia é uma ideia ilusória de que somos todos iguais, que as oportunidades são iguais, e joga para o sujeito essa responsabilidade de sucesso e fracasso (MAC-CORMICK; MUSSI, 2018).

A elite (Zeus) junto com a classe média (demais deuses do Olimpo), não quer que a classe popular esteja presente no mesmo ambiente que eles (universidades, empresas, etc), então proporcionam obstáculos (castigos), que acompanharão os pobres até o fim dos tempos. Diante deste cenário, é fundamental que seja feita a educação da sociedade acerca da divisão das classes sociais, a fim de que a pessoa reconheça a qual classe pertence e quem são seus verdadeiros inimigos.

Referências

BARBOSA L. Meritocracia e sociedade brasileira. Pensata. v. 54, n. 1, p. 80-5, 2014.

BULFINCH, T. O livro de ouro da Mitologia: Histórias de deuses e heróis. 26ª ed. Tradução: David Jardim Junior. Ediouro Publicações: Rio de Janeiro, 2002.

MAC-CORMICK, W.; MUSSI, A. E. H. Saúde Mental e Trabalho (Entrevista com Willian Mac-Cormick). Pluralidades em Saúde Mental. v. 7, n. 2, p. 7-14, 2018.


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