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Painel do Leitor | STF e a política e Lula candidato do sistema

Por Painel do leitor, redação do Universidade à Esquerda
18 de maio, 2021 10:44

O leitor Bruno Machado, do Rio de Janeiro, enviou dois comentários ao painel. No primeiro, avalia o papel político do Supremo Tribunal Federal e do judiciário em relação à prisão e à soltura de Lula. No segundo, discute como Lula pode ser o candidato do sistema em 2022

Nenhuma decisão do STF sobre Lula x Moro foi ou será apenas técnica

Quando Lula foi acusado e, pouco depois, preso por corrupção, a maior parte da sociedade o considerou culpado por acreditar que uma investigação judicial sobre um candidato a presidência seria neutra e desligada de tendências históricas e disputas sociais pelo poder.

Apesar disso, parte minoritária da sociedade brasileira, já na época, apontou as intenções políticas da persecução contra Lula evidentes em um país fortemente liderado pela elite econômica, que implantou a ditadura militar, colocou Collor no poder e trocou Dilma por Temer, para ficarmos só na história mais recente do Brasil. Da mesma forma que não havia Poder Judiciário neutro em todos esses momentos históricos, evidentemente não haveria com Lula ou com nenhum tema de relevância na disputa pelo poder no país.

Como já apontado por Wright Miils, o Judiciário é apenas um braço do poder político, junto com o executivo, o legislativo, os partidos políticos e outras formas de organização da sociedade. Acontece que, não se pode considerar o poder político como único regente em um mundo controlado pelo dinheiro e pelas armas. Sem considerar os poderes econômicos e militares, uma análise do poder político isolado se torna fraca, e quando essa análise exclui o Judiciário do poder político, o considerando técnico e neutro, chega-se a uma análise tão superficial que pode-se chamar inútil.

Mais do que isso, se a criminalização de Lula foi política, influenciada também pelos poderes econômicos e militares (nacionais e internacionais), seu processo de descriminação também é. Engane-se quem aponta o Supremo Tribunal Federal apenas como uma instituição de ação tardia. O Supremo apenas subescreve em decisões já tomadas pelas forças políticas, econômicas e militares em disputa pelo Brasil. Se Lula foi condenado, era porque convinha as forças que detinham mais poder sobre o Brasil e se será inocentado será pelo mesmo motivo

 Seja o motivo manter uma aparência de seriedade das ferramentas institucionais (o STF e o Judiciário como um todo) ou por interesses direitos em uma candidatura de Lula. Só saberemos no futuro.

Lula poderá ser o candidato do sistema no segundo turno de 2022

Se nas eleições de 2018 a mídia de massa, representante da elite econômica brasileira, demonstrou de forma nem tão velada um apoio a Jair Bolsonaro. Para isso, ressaltava os supostos pontos fortes de Guedes e sua agenda que tiraria o país da crise e o colocaria em uma rota de crescimento, ao mesmo tempo que deteriozava de todas as formas a imagem do PT e de Haddad que representava Lula na eleição. Hoje, essa mesma mídia reconhece majoritariamente que errou em sua “escolha muito difícil”, mas não é por isso que deve mudar de lado em provável segundo turno entre Lula e Bolsonaro.

As manchetes dos jornais de grande veiculação ressaltam a importância das reformas liberais e austeras de Paulo Guedes ao mesmo tempo em que atacam o negacionismo científico de Bolsonaro e seu desejo de derrubar a democracia por dentro para governo com os militares.

A elite econômica, que tem seus interesses expostos nos jornais, parece temer o avanço de poder dos militares no governo, roubando espaço antes conquistado por essa elite militar. Dessa forma, entre Lula e Bolsonaro, dessa vez a mídia, a elite econômica e portanto o sistema e a ordem devem ter Lula como seu candidato.

Do ponto de vista internacional, Bolsonaro foi eleito por conta do antipetismo vindo da Lava Jato, operação policial hoje claramente enviesada e com apoio dos EUA para afastar o Brasil de planos de desenvolvimento tecnológico, independência energética e alinhamento com o BRICS. Mas hoje, a prioridade dos EUA é manter a Amazônia viva e Lula não representa um grande risco ao imperialismo, já que historicamente manteve uma postura neutra quanto a isso.


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