Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) descobriram uma nova variante do coronavírus. A nova cepa foi identificada na cidade de Porto Ferreira (a 235 km de São Paulo) e tem uma mutação similar à cepa indiana.
A nova variante foi anunciada nesta terça-feira (25) pela Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).
Segundos o grupo de pesquisadores, a cepa batizada de P.4 já está presente em pelo menos 21 cidades do interior paulista. Mas segundo o grupo, mesmo ganhando terreno no estado, ainda é cedo para saber se a nova variante tem maior poder de transmissibilidade.
A gente pode dizer que ela está circulando no estado, mas não tem como afirmar se ela está consolidada. Como nós a descobrimos muito recentemente, a gente não sabe se daqui a pouco a P.4 vai desaparecer sozinha, se vai surgir uma outra [variante], ou se ela vai se manter. Isso é uma coisa que não dá para a gente avaliar ainda, vamos ter de observar o comportamento.
Cintia Bittar, que integra o grupo de cientistas da Unesp que fez a descoberta.
Os pesquisadores destacam uma mutação semelhante entre esta variante e a indiana.
Quando nós estávamos analisando as amostras da cidade de Porto Ferreira, encontramos uma mutação em algumas delas: a L452R. Ela é uma mutação que estava presente na variante da Califórnia e, logo depois, descobriu-se que está na variante indiana. A P.4, porém, não tem relação com essas variantes, mas ela tem uma mutação em comum com elas. E essa mutação, particularmente, ainda não tinha aparecido em nenhuma das variantes que estão aqui no Brasil.
Cintia Bittar, pesquisadora da Unesp.
Segundo estudos já realizados, a mutação L452R pode estar ligada a um escape imunológico, que possibilitam casos de reinfecções de covid-19.
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Ela é uma mutação já descrita na literatura que tem um impacto no reconhecimento de anticorpos. Então isso preocupa, e também nos preocupa o fato de que, na cidade em que nós estamos analisando [Porto Ferreira], já se observa um aumento dessa variante na cidade.
Cintia Bittar, pesquisadora da Unesp.
Devido ao curto tempo da descoberta e acompanhamento, é cedo para saber se a variante pode se espalhar e se sobrepor a outras cepas.
A gente ainda não tem como saber porque é algo recente. A gente não sabe onde isso vai dar, mas é importante que todos sejam alertados para que medidas sejam tomadas e não deixem essa variante se espalhar muito pelo país ou pelo mundo.
Cintia Bittar, pesquisadora da Unesp.
As variantes são novas formas que o vírus assume ao sofrer uma ou mais mutações em relação a sua forma ancestral.
Para minimizar a responsabilidade dos governos, as variantes normalmente são colocadas como culpadas por surtos ou aumento abrupto de casos da doença. Na verdade, as variantes são o resultado do descontrole e da alta circulação do vírus. O afrouxamento das restrições provoca maior contato entre as pessoas, maior circulação do vírus e, assim, maior chance do vírus se transformar em formas mais resistentes.
Segundo comunicado da SBV, a identificação da P.4 foi realizada pelo trabalho coletivo de diversos laboratórios universitários: Instituto de Biotecnologia (Ibtec/Unesp), Instituto de Biociências (Unesp) em Botucatu, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce/Unesp) em São José do rio Preto, Laboratório de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), aculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP Pirassununga (FZEA-USP) e Unesp de Araraquara.
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