No dia 10 de dezembro de 2020, a Pró-reitoria de Graduação (PRG) da Universidade de São Paulo (USP) lançou à comunidade um edital que dispunha sobre o “Programa de Estímulo à Modernização e Reformulação das Estruturas Curriculares dos Cursos de Graduação na USP – Novos Currículos para um Novo Tempo”, Programa que funcionará financiando cursos que propuserem modificações no sentido de incorporar o ensino híbrido em seus currículos.
A Reitoria da USP se posiciona expressamente pelo Ensino Híbrido nos cursos de graduação, ou seja pela manutenção de parte das atividades de ensino no formato a distância. Para os dirigentes da universidade, os momentos à distância trariam benefícios para as “atividades presenciais”, pois consideram que
“os ensinamentos adquiridos durante a pandemia trarão uma nova realidade para o ensino de graduação. O ensino presencial ou remoto, ou seja, o ensino híbrido (Blended learning) deverá estar presente nos cursos de graduação. Este tipo de ensino não irá substituir as atividades presenciais, mas possibilitará que as atividades presenciais sejam melhor aproveitadas, de forma integrada, contextualizada e participativa no processo ensino-aprendizagem.”
O objetivo do Programa, segundo a Pró-reitoria, seria de “incentivar e fomentar a modernização e a reformulação das estruturas curriculares das diferentes unidades de ensino, com foco na incorporação de novas metodologias, fortalecimento das estratégias bem sucedidas, integração intra e interinstitucional e contextualização, buscando garantir formação de excelência que atenda às necessidades dinâmicas de nossa sociedade atual”. E o esperado é que as alterações passem a valer a partir de 2022, ou seja os cursos que aderirem ao programa têm um ano para realizar as modificações em seu funcionamento.
O programa funcionará por adesão, e cada curso que propor modificações em seu funcionamento pode concorrer ao financiamento da universidade para implementá-las. Ao fim e ao cabo, a linguagem modernizante não é capaz de esconder o real teor da proposta – diminuir a carga teórica e propedêutica dos cursos, torná-la rarefeita e rebaixar a formação a produção de habilidades e competências. Isto é explícito, uma vez que para receberem o financiamento às propostas devem conter:
“b) Incluir a rediscussão de conteúdos, redução da carga cognitiva, potencialização da carga didática aplicada e aplicação de metodologias ativas para o processo de ensino-aprendizagem; c) Apresentar caráter inter e/ou transdisciplinar, integrando as áreas de interesse, competências e habilidades inseridas no(s) Projeto(s) Pedagógico(s) do(s) curso(s) de graduação envolvido(s)”
Esse é um exemplo do futuro que planeja-se para as universidades do nosso país, não só porque outras instituições podem se inspirar direta ou indiretamente na USP, mas porque, principalmente, nenhuma universidade foi capaz de adotar o ensino remoto considerando suas consequências, o que resultou em aceitação da modificação dos processos de aprendizagem sem a consideração de sua excepcionalidade devido a uma catástrofe mundial.
Ou seja, até o final do ano, a USP ensaia uma reestruturação de cursos de Graduação. Novos Currículos, adequados cada vez mais às necessidades do capital, e não ao desenvolvimento de conhecimentos científicos, filosóficos e artísticos, para um Novo Tempo, um tempo em que o pensamento crítico seja exterminado de vez das universidades do nosso país.
Cabe a nós planejar um novo projeto às universidades, tomando a coragem e a inspiração dos estudantes de Córdoba.