Jornal socialista e independente

Cláudio Ribeiro

Cláudio Rezende Ribeiro é professor da FAU-UFRJ (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) onde atua com ensino de urbanismo, meio ambiente e história da cidade na graduação e no Programa de Pós-graduação em Urbanismo – PROURB/FAU/UFRJ. É pesquisador do Laboratório de Direito e Urbanismo e participa do coletivo PERIFAU. Foi presidente de seção sindical do Andes-SN na UFRJ, a Adufrj-ssind de 2013 a 2015, e integrou a a diretoria nacional deste sindicato de 2016 a 2018. Defende uma universidade pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada. Acredita que a cidade só se realiza no conflito.

Das nuvens que brotam do chão, ou a farsa da distância.

30 de dezembro, 2020 Atualizado: 19:05

Arte: “Ensino Remoto” da Izabela Schaus do perfil @raw_speech  no Instagram

Por exemplo, a forma da madeira é alterada quando dela se faz uma mesa. No entanto, a mesa continua sendo madeira, uma coisa sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa coisa sensível-suprassensível. Ela não só se mantém com os pés no chão, mas põe-se de cabeça para baixo diante de todas as outras mercadorias, e em sua cabeça de madeira nascem minhocas que nos assombram muito mais do que se ela começasse a dançar por vontade própria. (Marx, O Capital)

Uma das principais tarefas da crítica é identificar a maneira através da qual se expressa o fetiche. Isso implica, especialmente, revelar onde estão e quais são as mercadorias contemporâneas, isto é, como determinado estágio e posição do modo capitalista de produção opera para aprofundar a mercantilização a vida. De forma breve, a crítica tem a tarefa de cultivar minhocas na cabeça da classe trabalhadora.

Tentarei com este texto, estabelecer um diálogo com uma necessária e farta crítica que tem aparecido a respeito das experiências de EaD/Ensino Remoto[1], etc, impostas nas universidades e escolas a partir da oportunidade que o mercado enxergou com a chegada do Sars-CoV-2. Aliás, diga-se de passagem, somente a classe proprietária, que reduz a classe trabalhadora a mão (ou perna) de obra, seria capaz de imaginar e colocar em prática alguma relação de vantagem com o surgimento de uma doença tão devastadora como tem sido a COVID-19. A desumanização da burguesia segue a passos tão largos que ela enxerga o vírus como um aliado ou como um igual.

Para tentar ampliar o escopo da crítica já realizada, este texto não vai partir da problematização do ensino/educação, mas da distância. É preciso apontar, pelo menos, parte do uso mercantil da distância dentro daquilo que se chama EaD, de modo a ajudar no desvelamento de um fetiche que fortalece uma crescente adesão a este processo de trabalho por parte das categorias docente, discente e TAE, isto é, a ideia de que a EaD tem aproximado pessoas, que as plataformas de aula têm sido uma aliada para reunir, eliminando as distâncias resultantes do isolamento social ampliado obrigatório ou até mesmo abrindo uma brecha para possibilitar maior acesso aos estudos onde “a universidade pública não chega”. É hora de politizar a distância.

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