Opinião
[Série: Crime da Vale] População de Brumadinho vive luto e luta
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O dia 25 de janeiro de 2019 mudou drasticamente a vida da população do vale do rio Paraopeba, na região metropolitana de Belo Horizonte. Após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale, a população de diversas localidades sentiu seus efeitos em tempos diferentes. Trabalhadores da Vale que estavam no refeitório da empresa foram soterrados pela lama tóxica em cerca de 70 segundos. Moradores do Córrego do Feijão tiveram suas casas invadidas pela lama em poucos minutos. Ao longo dos dias seguintes, os rejeitos de mineração foram carregados pelo rio Paraopeba, matando a fauna aquática e deixando muitas famílias sem fonte de água.
São milhares de pessoas atingidas pelo crime da Vale de diferentes formas. Ao 18o dia do massacre, conta-se 165 vítimas fatais e 155 pessoas desparecidas sob a lama, entre trabalhadores, contratados da Vale e terceirizados, e moradores de Brumadinho. A quantidade de pessoas atingidas pela perda de bens materiais ainda não foi contabilizada. Além destes, já ocorrem diversos casos de adoecimento psicológico nas áreas afetadas.
Aqui em Brumadinho, são realizados diversos enterros todos os dias. Um carro de som, com uma gravação na qual só muda o nome do falecido e o horário do velório, avisa toda a cidade que a família convida para seu sepultamento. O único som que é ouvido com mais frequência que o carro, é o barulho do trem, passando com muitos vagões cheios de minérios, que continuam sendo extraídos da região sem pausa, nem para o luto.
Os enterros são com caixões fechados, muitos deles contém somente partes de corpos destruídos pela avalanche de lama tóxica. O Corpo de Bombeiros tem trabalhado para encontrar essas partes soterradas: pernas, braços, troncos sem cabeça. As chances de encontrar alguém vivo agora são praticamente nulas, mas o reconhecimento dos corpos por DNA serve como consolo às famílias, que conseguem ao menos realizar uma cerimônia e lidar de outra forma com a sua perda.
Na cidade de Brumadinho, com menos de 40 mil habitantes, é difícil encontrar alguém que não tenha perdido um familiar, um vizinho ou um conhecido por causa do crime. A vida social comunitária foi completamente desestabilizada pelo acontecimento. Porém, em meio à tragédia causada pelo crime, as pessoas mostram muita força, organização e luta. Reuniões comunitárias, reivindicações e gritos de ordem também são vistos e ouvidos nesta cidade de uma forma que antes não acontecia.
Neste momento, diversos representantes da sociedade civil, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e outros movimentos sociais, o Ministério Público e outros órgãos federais e estaduais, entre outras entidades, trabalham junto com os atingidos para que a empresa assassina pague e devolva a esta população, ao menos um pouco de tudo que lhe foi tomado de supetão.
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