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Opinião

Eles estão debochando da nossa cara

Lama em Brumadinho. Foto de Diego Baravelli. Licença Creative Commons.
Por Beatriz Costa, redação do Universidade à Esquerda
15 de março, 2021 Atualizado: 18:54

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Lira Itabirana, poema de Carlos Drummond de Andrade publicado em 1984

Em 25 de janeiro de 2019 a barragem próxima à Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho-MG se rompeu, causando 272 mortes imediatas e incontáveis danos, incluindo poluição do rio Paraopeba, perda de renda das famílias da região e degradação do ambiente de maneira geral.

O crime acontece quando muitos achavam que não viveríamos algo pior do que o que havia acontecido próximo à cidade de Mariana-MG, em novembro de 2015. Os impactos ambientais do rompimento em Mariana são considerados maiores, com a destruição do Rio Doce, mas a quantidade de pessoas mortas em Brumadinho foi 20 vezes maior. Além disso, as estimativas iniciais indicam que mais de 240 mil pessoas em 26 cidades ao longo da bacia do rio Paraopeba tenham sido diretamente afetadas pelo colapso da barragem da Vale em Brumadinho. As famílias ainda aguardam a localização de onze vítimas que sumiram na lama.

Muitas coisas aconteceram ao longo desses mais de dois anos. Logo após o rompimento da barragem, diversas ações solicitaram o bloqueio de parte do dinheiro da Vale para que fosse utilizado no atendimento às vítimas, entre elas, as impetradas pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Naquele momento foram bloqueados 11,8 bilhões em contas da Vale.