Em 19 de fevereiro de 1981, na sequência de saltos organizativos das lutas operárias e da primeira greve nacional dos professores das Ifes Autárquicas, era fundada em Campinas a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior, a ANDES. Neste dia em 2021 o Andes — hoje Sindicato Nacional — comemora seus 40 anos, culminando uma trajetória exemplar da organização dos trabalhadores e da defesa ferrenha dos princípios da democracia de base, da autonomia sindical, da escola pública e do papel crítico e abrangente da instituição universitária.
A Universidade permanece Pública em larga medida graças à coragem e à convicção de gerações de professores que, em torno do Andes-SN, se organizaram contra os projetos privatizantes dos sucessivos governos da Nova República, mantendo uma postura autônoma perante o Estado. No plano sindical, igualmente o Andes-SN teve um papel protagônico, promovendo e financiando a organização dos trabalhadores, as iniciativas críticas, publicando jornais e periódicos científicos e mantendo um tom de polêmica tanto frente às velhas associações corporativistas como frente ao novo burocratismo sindical.
É talvez enfadonho — mas não menos necessário — sublinhar que, apesar de exemplar, a trajetória dos docentes no Andes-SN não é traçada em linha reta, mas descreve avanços, recuos, saltos, à medida que o nível de consciência e as condições objetivas permitem que esses trabalhadores acumulem suas experiências de luta e conformem-se em força social organizada. Em certos momentos, os professores estão de tal modo organizados e politizados que podem deflagrar uma greve nacional das Ifes e não ceder por uma centena de dias; em outros momentos, o acúmulo de batalhas perdidas, a perda de referências, a infiltração da lógica privatista nos campi e o poder disciplinador do trabalho impõem-se, frustrando até mesmo a articulação política entre colegas de departamento.
Enfim, por duro que seja reconhecer, o Andes-SN chega aos seus 40 em uma situação que mais se assemelha ao segundo momento que ao primeiro. E encara à sua frente um cenário dos mais incertos, com uma crise econômica que se manifesta plenamente como crise política, sindical, do Estado, da sociedade. A geração de professores que hoje se aposenta, mesmo continuando a lutar, e cuja própria trajetória política se confunde com a do Andes-SN, entrega para as novas gerações um legado de 40 anos de lutas — experiência que nos prepara para enfrentamentos futuros — junto a uma imensa responsabilidade: defender a Universidade Pública, cercada de todos os lados, numa batalha com inimigos muito organizados.
Em seu boletim n° 1, a Andes recuperava o emblema da greve que lhe deu origem: “Éramos colegas; hoje somos companheiros de lutas”. Reviver essa idéia é um desafio urgente, incontornável, para a nova geração de professores.
Viva os 40 anos do Andes – Sindicato Nacional!
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