Jornal socialista e independente

Olinda Evangelista

É professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFSC). Pesquisadora do Grupo de Investigação em Política Educacional (GIPE-Marx), sediado na UFSC. Em seus estudos de política educacional privilegia o tema da formação docente e a defesa inconteste da escola pública e seu papel crucial na formação da classe trabalhadora. Também é bordadeira.

O Plano Nacional de Educação sou eu. Eu quem?

Como diria Gramsci, eles – organizações e sujeitos – têm partido, mas seu peito não sangra

14 de junho, 2022 Atualizado: 20:15

Em coautoria com Allan Kenji Seki¹.


Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia
.

Saramago, 1987²

Todas as vezes que vamos escrever um texto, uma aflição nos ataca e pensamos se seria pertinente fazê-lo dada a suspensão em que vivemos. Tudo parece pequeno frente aos descalabros da ascensão desembestada da violência no país. Quando estamos voltando a respirar, revoltados com um absurdo – como a chacina no Rio de Janeiro3 –, entramos em outra espiral de escárnio e brutalidade – como a de Genivaldo4. E ainda não nos refizemos da dor do extermínio indígena, da volta da Covid-19, das ameaças de privatização das Instituições Públicas de Ensino Superior, dos cortes de recursos para a Educação5 e do gozo presidencial, estampado nas mídias, diante de tantas mortes e destruições… Mas seguimos porque cremos na luta contra a barbárie Brasil afora, embora a conjuntura eleitoral para a presidência da República venha comendo parte importante desta força…

Se muitos de nós têm o coração sangrando, outros nunca deixaram a “janela de oportunidade” fechar e cumprem, ‘zelosamente’, seu dever de propor projetos educacionais ‘para todos’ no afã de mostrar que suas “contribuições para a elaboração de uma agenda sistêmica para a Educação Básica brasileira nas próximas gestões federal e estaduais” são universais. Derivou deste zelo a publicação, pelo Todos pela Educação (TPE), do documento Educação Já 2022 no último abril. O slogan “‘Educação de qualidade’ não pode continuar sendo privilégio de poucos” (TPE, 2022, p. 3)6 remete ao famoso livro de Anísio Teixeira Educação não é privilégio, cuja primeira edição data de 19577. Se para Teixeira o problema da educação era “ser para poucos”, para o TPE é ser de “qualidade para poucos”; em ambos os casos tratar-se-ia de criticar os privilégios e formar o cidadão, generalizando a escola pública em quantidade e qualidade. Apologetas de Fernando Henrique Cardoso (FHC) defendem que seu Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, teria concretizado este périplo, sacramentado pelo Banco Mundial, nas esteiras do projeto Educação para Todos da UNESCO8, lançado na década de 1990. No começo da década de 2010, o novo norte veio estampado na capa de um documento do Banco: Aprendizagem para Todos9! Assinalava-se que

Aprendizagem para Todos significa a garantia de que todas as crianças e jovens – não apenas os mais privilegiados ou os mais inteligentes – possam ir não só à escola, mas também adquiram o conhecimento e as habilidades de que necessitam para terem vidas saudáveis, produtivas e obterem um emprego significativo (BM, 2011, prefácio)10.

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