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Opinião

Quem fica de fora do Reviver Centro no Rio?

Projeto de revitalização do Centro possui caráter higienista e busca valorizar empreendimentos

Elaboração de Luiza Bertin em seu Trabalho Final de Graduação apresentado no Çirculação da Balbúrdia
Por Flora Gomes, redação do Universidade à Esquerda
22 de setembro, 2021 Atualizado: 09:45

O projeto de Lei complementar n˚ 11/2021 instituiu o Programa Reviver Centro no Rio de Janeiro. Ele estabelece diretrizes para a “requalificação urbana e ambiental, incentivos à reconversão e conservação das edificações existentes e à produção de unidades residenciais”. Este programa faz parte de um processo em curso na capital carioca que, com a atuação direta do empresariado, tem rifado patrimônio público e buscado higienizar determinados espaços da cidade a fim de aumentar o valor especulativo de diversas regiões.

O que se apresenta oficialmente com esse  projeto é a busca pela ocupação de espaços ociosos e incentivo à ocupação residencial da região. Sob discurso da necessidade de revitalização do Centro do Rio, a proposta prevê o direcionamento de investimentos públicos para a transformação do local. Contudo, é necessário entender o programa sob uma perspectiva dos conflitos urbanos na capital carioca, que se apresentam há séculos e se intensificaram nos últimos anos. Cabe lembrar que a cidade tem sido alvo de relevantes empreendimentos devido aos investimentos durante a Copa do Mundo em 2014, os Jogos Olímpicos de 2016 e a Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha iniciada em 2011. 

Foi no centro da cidade do Rio o local onde chegaram diversos navios com populações negras escravizadas durante o período de colonização do Brasil. Entre os séculos XVIII e XX, o espaço contou com a presença deles, mas a estrutura arquitetônica central carregava as necessidades residenciais das elites e os prédios administrativos. O Morro da Providência, localizado na região, foi a primeira favela do Brasil.