Quadro trágico brasileiro: 61,7 milhões são informais ou desempregados
Dos 83,3 milhões brasileiros ocupados, apenas 43,9 milhões têm emprego formal
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
01 de setembro, 2020 Atualizado: 09:44
Aproximadamente 65,4 milhões de pessoas recebem o auxílio emergencial. Esse número é similar a parcela da classe trabalhadora que hoje está sem emprego, trabalhando informalmente ou trabalhando menos do que o necessário para se manter — cerca de 61,7 milhões de trabalhadores.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que o Brasil tenha atualmente 211,8 milhões de habitantes, segundo dados de julho deste ano. Do total da população brasileira, cerca de 97,1 milhões não compõem a força de trabalho disponível ao mercado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Como mostra o gráfico abaixo, fazem parte deste grupo cerca de 36,9 milhões de crianças menores de 14 anos e 64,2 milhões de pessoas “na força de trabalho não potencial” (donas de casa que não trabalham fora, adolescentes em idade escolar, aposentados e outras pessoas que não precisam ou não têm condições de trabalhar).
Fonte: PNAD/IBGE, 28 ago. 2020. Gráfico: UàE.
Já a fração da classe trabalhadora em idade e condições de trabalhar abrange cerca de 105,6 milhões de pessoas, como demonstra o segundo gráfico.
Destes, porém, apenas 43,9 milhões têm trabalho formal (seja no setor público ou privado). A outra parte da classe trabalhadora, 61,7 milhões, está desempregada, trabalhando menos do que necessário para seu sustento ou trabalhando em condições informais.
Em relação ao conjunto de pessoas com ofício, são 42,5% trabalhando informalmente, 52,7% com trabalho formal (no setor público ou privado) e 4,7% “empreendedores” (desde grandes empresários até pequenos e microempresários).
São cerca de 35,4 milhões de brasileiros trabalhando na informalidade (trabalhadora doméstica ou na iniciativa privada sem carteira assinada, por conta própria ou trabalhando para algum familiar).
Somam-se aos informais 26,3 milhões de trabalhadores desempregados. São 12,7 milhões de “desocupados” e 13,5 milhões que têm potencial para serem integradas a força de trabalho (do qual uma parte desiste de procurar emprego — 5,7 milhões — sendo considerada “desalentados”).
Fonte: PNAD/IBGE, 28 ago. 2020. Gráfico: UàE.
Ou seja, cerca de 58% da força de trabalho brasileira está em condições de informalidade ou desempregada. O montante de trabalhadores nesta condição (61,7 milhões) é próximo ao número de pessoas que contam hoje com o auxílio emergencial do governo federal (65,4 milhões).
A taxa de desemprego real alcançou 29,1% em junho deste ano. Configura esta taxa trabalhadores desempregados, procurando ou não emprego no tempo recente, e trabalhadores parcialmente desempregados (que trabalham menos tempo do que necessitam). São 31,9 milhões entre desocupados, subocupados e desempregados que não buscaram emprego nas últimas semanas.
Segundo o IBGE, 2,5 milhões de brasileiros buscam trabalho há pelo menos 2 anos.
Por conta das implicações da pandemia do coronavírus, agravada pela crise econômica, diversos países adotaram programas de renda básica emergencial para combater os impactos negativos às frações da classe trabalhadora que são mais afetadas (baixa renda, desempregados, trabalhadores informais, pequenos comerciantes e demais trabalhadores em situação de vulnerabilidade).
O elevado número de trabalhadores brasileiros em condição de informalidade ou desempregado ilustra a trágica situação da economia brasileira. O Brasil está em crise pelo menos desde 2011, momento da “segunda onda” da crise capitalista internacional. No ano de 2020, uma nova “onda” da crise, catalisada pela pandemia da Covid, abalou a economia mundial.
Nos países de economia dependente, como é o caso do Brasil e dos demais países latino-americanos, o mercado de trabalho é marcado pela intensa informalidade e altos índices de desemprego.
O quadro precário da classe trabalhadora brasileira mostra um dos principais motivos pelo qual houve uma demanda tão elevada pelo auxílio emergencial. Ao todo, 107 milhões de brasileiros se cadastram para receber o auxílio.
A abrangência do auxílio, entre outros fatores, suscitou no aumento da popularidade do governo Bolsonaro. Mesmo liderando o país entre os piores índices da pandemia, o governo federal tem conseguido se apresentar para parcela significativa dos trabalhadores como aquele capaz de combater a crise.
Segundo pesquisa Datafolha de 11 e 12 de agosto, Bolsonaro está com a melhor aprovação desde o início do mandato. Segundo o instituto, 37% dos brasileiros consideram seu governo bom ou ótimo.