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Opinião

Por que a Pós-Graduação não debate sobre a Universidade Pública?

Somente por meio da circulação deste debate é possível escolher o destino desta instituição

Foto: Montagem UàE. (UFRJ: Omar Uran)
Por Caio Sanchez, redação do Universidade à Esquerda
18 de março, 2021 11:31

A formação na Pós-Graduação Stricto Sensu, sobretudo nas universidades públicas, exerce um duplo papel. Conforme comumente sabido, a trajetória por um mestrado e doutorado acadêmico tem a função de formar pesquisadores nas diversas áreas de conhecimento. Além disso, possivelmente após os seis anos que em média levam para percorrer essa trajetória, o estudante da pós-graduação titulado, torna-se, mediante concurso público, docente. Ser professor implica não só na transmissão de conhecimento em sala de aula, mas na participação de órgãos administrativo-políticos da Universidade e na continuação da produção científica. Se a trajetória da formação destes pesquisadores se dá com anos de inserção em Universidades Públicas para, ao final, resultar em um cargo nesta instituição, por que os pesquisadores brasileiros não têm, ao longo destes anos, sequer um contato sobre o papel das Universidades Públicas? Porque os estudantes passam mais de uma década nesta instituição sem sequer questionarem-se sobre as especificidades das mesmas? 

Saber sobre a Universidade implica em mudanças políticas sérias. No tocante ao desenvolvimento das pesquisas em todas as áreas de conhecimentos, constatar o profundo papel que esta instituição ainda pode exercer, é poder fazer uma escolha política consciente sobre o significado de cada pesquisa e poder mudar o rumo do que tem se tornado esta instituição. A título de exemplo, podemos pensar nas pesquisas realizadas nas universidades que são patenteadas por empresas, o que ocorre principalmente nas áreas tecnológicas. Uma apropriação direta do privado sobre pesquisas e tecnologias que deveriam estar sendo socializadas, financiadas por dinheiro público. Pelo contrário, temos seu exato oposto, a pesquisa que é de interesse público é apropriada para gerar lucros para empresas específicas.Ao invés de socialização de conhecimento, temos seu exato oposto. Será que esta dinâmica estaria tão generalizada se houvesse um debate constante sobre o papel que uma universidade pública pode cumprir na soberania nacional? Se fosse generalizado o debate sobre a relação entre essa que parece ser apenas uma dentre muitas formas de financiamento e as implicações desta para a dependência tecnológica que tanto nos afeta?