Opinião
Descaso: UNE, UCE e UCES impedem fala de moradores da ocupação Marielle Franco, há 3 dias sem água e luz
Dez horas. Esse foi o tempo que trabalhadores que atualmente realizam a ocupação Marielle Franco acompanharam a grande mobilização universitária. Há três dias sem água e luz, os moradores da ocupação no Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis, planejavam promover um cercamento em uma das vias próximas ao final do dia de ontem (15). A ação era pensada para chamar atenção da prefeitura e de demais órgãos públicos para o ataque que a comunidade está sofrendo.
Dez horas de espera para cinco minutos de fala. Era isso que os moradores queriam. Mas a fala não foi permitida. O pedido foi feito quando parte do ato estava em frente à Assembleia Legislativa (ALESC), sendo conduzido pela UNE (União Nacional dos Estudantes), UCE (União Catarinense dos Estudantes) e UCES (União Catarinense das e dos Estudantes Secundaristas). “Não dá mais, o ato acabou”, alegaram os membros das entidades que impediram os moradores de relatar a situação e convidar os estudantes ali presentes para o fechamento da via.
A marcha estava dividida. Uma grande parte havia ficado próximo ao Terminal do Centro e da Praça XV. Outra parte, com maioria de estudantes, foi conduzida para a ALESC para uma “plenária” organizada pelas entidades estudantis.
Em frente à ALESC, as entidades monopolizaram as falas e tentaram encerrar o ato mesmo sob vaias. “O ato tem que continuar”, gritavam os estudantes. As entidades encobertas pela bandeira da UJS (União da Juventude Socialista), tentavam velar o desgosto chamando gritos de luta: “A nossa luta unificou, é estudante junto com trabalhador!”.
Em entrevista ao UàE, um morador relatou a indignação com as entidades estudantis: “Eu também queria falar [sobre] os estudantes que interromperam a palavra do meu amigo ali. A gente está desde de manhã acompanhando eles e a gente acha que merecia ao menos cinco minutinho de atenção também da parte deles. [Mas] não tivemos essa consideração”.
“A ocupação Marielle Franco está três dias hoje […] sem água e luz e a gente tem as nossas crianças que precisam tomar banho, temos as nossas esposas que precisam fazer comida, a gente tem que escovar os dentes, entendeu? Então daqui a pouquinho […] a gente está cercando a via lá, a gente vai fazer uma barricada lá, se for possível, para chamar atenção, que a gente precisa”.
O morador que falou com o UàE era portador de deficiência física nas pernas. Ele acompanhou o dia inteiro de manifestação através das suas duas muletas de apoio.
Essas organizações não representam os estudantes
Felizmente essa faceta do movimento estudantil está muito bem determinada. Trata-se das organizações oportunistas que utilizam-se de entidades estudantis, como UNE, UCE, UCES e Diretórios Centrais dos Estudantes (DCEs).
Essas organizações são responsáveis em grande medida pela desmobilização política dos estudantes e, consequentemente, por parte da condição degradante que as universidade atualmente se encontram. Afinal, não estamos no começo de um ataque à Universidade Pública. Muito pelo contrário: estamos nos últimos suspiros depois de anos de consecutivas derrotas e sucessivas traições dessas organizações.
Em contrapartida, porém, uma grande massa estudantil se mobiliza independente de tais organizações e partidos. A grande mobilização que tomou corpo na UFSC é um claro exemplo disso. Mais de 50 cursos da UFSC aderiram à paralisação e somaram-se às ruas na Grande Greve Nacional da Educação, que mobilizou o país inteiro.
Essa mobilização passou completamente por fora das grandes entidades. Independente do DCE-UFSC, os estudantes se mobilizaram através das bases, dos centros acadêmicos (CAs) e, em alguns onde o CA não mobilizou, os estudantes autoconvocaram assembleias.
A grande marcha de ontem deixou uma mensagem simbolicamente muito clara, quando o DCE-UFSC encerrou oficialmente o ato antes das 17h no TICEN com um jogral e a massa seguiu manifestando. Ou quando a UNE encerrou o ato na ALESC, mas a grande maioria seguiu e se somou aos que estavam em frente ao Terminal do Centro. Paremos aqui, diziam as entidades. À frente, empurrava a massa manifestando.
Mesmo que queiram manter a aparência de liderança, as três bandeiras da UNE na linha de frente da marcha não tem qualquer poder prático sobre os quilômetros de ato que aglomeram-se logo atrás. A Universidade mostrou sua grandeza e seu poder ao se somar com os demais trabalhadores.
Não será apenas pelos cortes. Rumo à construção de uma universidade da sociedade e pela sociedade.
A Luta só começou. Próxima parada: Greve Geral no dia 14 de junho!
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