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A Reforma da Previdência não irá salvar a Universidade
Em suas recentes declarações acerca dos graves cortes orçamentários de 30% das verbas das Universidades Públicas, o Ministro da Educação Abraham Weintraub afirma que caso a Reforma da Previdência seja aprovada, estes atos poderão ser revistos.
Acreditar nesta declaração do ministro só é possível se ignorarmos todos os demais fatos da realidade que demonstram justamente o contrário: todos os ataques do governo fazem parte do mesmo projeto, não há como reduzir danos. Ao mesmo tempo que a Reforma tramita no congresso, uma série de bens nacionais vêm sendo privatizados, patrimônios ambientais inestimáveis vêm sendo concedidos para a destruição pelo agronegócio ou exploração pela iniciativa privada, aumentaram amplamente os agrotóxicos cancerígenos liberados para serem servidos em nossas mesas, o número de desempregados no país só cresce logo após a reforma trabalhista que prometia reverter esse efeito… Não estamos enfrentando um bando de atrapalhados que destroem nossos recursos porque não entendem direito o seu fim. Este governo tem um projeto, é o governo da barbárie declarada. Os nossos algozes precisam desferir de forma combinada todos estes ataques para responder às demandas atuais das classes dominantes, eles não estão dispostos a dar nenhum passo atrás no seu projeto de destruição. A questão é que eles também precisam que nós não estejamos dispostos a dar os passos adiante necessários para nos defendermos.
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No que diz respeito a Universidade por si mesma, acreditar neste tipo de declaração também é ignorar tudo que vêm sendo apresentado por este governo desde o período de campanha que o elegeu. Pois este tem deixado claro desde o princípio que qualquer relação séria com o conhecimento é sua inimiga declarada, que os espaços de debate e de evidências científicas precisam ser sabotados. Eles dizem abertamente que o único fim que o ensino superior deve ter é o da formação para o mercado de trabalho – que sequer é capaz de absorver a atual massa de desempregados. Mas nem para isto precisam mais das Universidades Públicas. As recentes declarações mentirosas de Bolsonaro sobre as Universidades em sua entrevista à Jovem Pan também têm este conteúdo de fundo. É preciso mentir sobre as pesquisas realizadas pelas Universidades Públicas, porque este governo não quer mais que elas aconteçam. Para eles basta que existam instituições que endividam jovens para a aquisição de diplomas que apenas lhe servirão como mais um documento que carregarão consigo na fila do desemprego.
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Chama a atenção, que na UFSC, o Reitor Ubaldo Balthazar tenha declarado que emendas parlamentares podem salvar a Universidade na mesma semana em que Rodrigo Maia e Onyx Lorenzoni estavam oferecendo aos congressistas 40 milhões em verbas parlamentares para aprovarem a Reforma da Previdência. A direção máxima desta instituição tem nos levado a acreditar nas ilusões de um governo descaradamente mentiroso e destrutivo quando se trata de educação. Ser incorporado nas fantasias dessa política de troca troca corrupta dos parlamentares significa nada mais, nada menos, que aceitar ser conduzido de forma silenciosa para a câmara de abate.
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Não é uma escolha viável nos deixarmos confundir pelo corporativismo e sermos conduzidos de forma covarde a um triste e trágico fim. Se por um lado, há a dura constatação da realidade de que não há nada que possamos perder que eles já não estejam dispostos a nos tomar, por outro, há a clareza de que somente um novo radicalismo, que se ponha contra o conjunto desses projetos destrutivos, será capaz de enfrentá-los. Não é sem razão que eles tanto temem esse radicalismo e fazem imensos alardes para tentar sufocá-lo antes mesmo que ele possa sequer existir. Cabe a nós sermos melhores que nossos dirigentes e demonstrarmos que a flor no meio do asfalto ainda têm fôlego para nascer.
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