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101 anos do Manifesto de Córdoba: que a radicalidade da juventude de 1918 se encarne em nossas lutas

Imagem: Foto da La Gaceta Universitária – Junho de 1918 – Museo Casa de la Reforma Universitaria
Por José Braga, redação do Universidade à Esquerda
22 de junho, 2019 Atualizado: 23:06

 

Há 101 anos os jovens argentinos lançaram um manifesto que se inscreveu na história de nossa classe. A luta em defesa da Universidade no Brasil hoje precisa encarnar sua radicalidade.

Em 1918, os estudantes da Universidade de Córdoba realizaram uma forte luta pela transformação da universidade. Uma greve nos cursos de medicina e engenharia iniciado ao fim de março daquele ano disparou um ascenso de lutas. As respostas conservadoras da reitoria e do governo argentino incendiaram ainda mais a juventude.

As ruas de Córdoba foram tomadas em protesto, estudantes de todo o país se solidarizam e a luta se amplia rapidamente em torno da pauta da reforma universitária. Naquele momento os estudantes fundam a Federação Universitária Argentina (FUA). Declaram corajosamente uma greve geral universitária, recebendo grande apoio não apenas de estudantes de todo o país e da América Latina, mas do movimento operário, de sindicatos, partidos e intelectuais da esquerda que aderem ao movimento. A revolta cresce, e dentre o conjunto de correntes políticas que a compõem tomam corpo os socialistas. Os ventos de liberdade da revolução russa de 1917 sopram na América Latina.

 

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É neste contexto que dirigentes da FUA redigem o Manifesto Liminar ou La juventud argentina de Córdoba a los hombres libres de Sudamérica o Manifesto de Córdoba de 1918. Inventando seus próprios caminhos, frente a uma universidade arcaica e conservadora ousaram sonhar com uma revolução – com uma universidade que produzisse conhecimentos para transformar o mundo. Quando a universidade desconhecia qualquer forma democrática, sua luta era por co-governo estudantil; quando era controlada pelos clérigos e pela oligarquia lutou por autonomia universitária, o fim das cátedras vitalícias, uma política de assistência estudantil.

Trilharam um caminho de luta que excedia seus interesses individuais e de seus grupos. Enlaçaram-se com os trabalhadores. Lutaram pela liberdade, por uma Universidade nova, por um mundo novo. Forjaram uma generosa experiência de grande radicalidade, que inspirou as lutas de estudantes e trabalhadores por um século, e precisamos continuar aprendendo com eles.

Em nossa luta contra os cortes no orçamento da educação e da Universidade pública precisamos encarnar a radicalidade da juventude de Córdoba de 1918.

Precisamos avançar em nossa luta. Precisamos protestar pela recomposição do orçamento, inclusive no mínimo aos patamares de 2015 quando começaram os cortes sistemáticos no financiamento das universidades, mas isto não basta. As coisas já não iam bem antes, lutar para que fique tudo como está, ou para retornar ao passado, não basta.

É preciso derrotar todas as formas de privatização, as parcerias público-privadas, as fundações, incubadoras de empresas, entre outras, que submetem a produção do conhecimento e a formação dos estudantes aos interesses das burguesias de plantão. É preciso derrotar a lógica dos rankings, das avaliações de larga escala, que funcionam como dispositivos de adequação das universidades. Derrotar toda restrição à autonomia intelectual nas universidades é imprescindível para produzir um conhecimento que sirva a um novo mundo.

É preciso expandir as universidades públicas. Toda a juventude tem que poder cursar a formação universitária. A massa enorme de jovens endividados nas universidades privadas, ou que não puderam acessar nenhuma formação superior são nossos irmãos e podemos lutar juntos para que todos possamos ter uma formação pública.

 

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E nada disso nos basta se não estivermos enlaçados ao conjunto das lutas de nossa classe. Aprendemos com Córdoba. Inventar um caminho próprio. Uma nova Universidade para um novo mundo.

 

*O texto é de inteira responsabilidade da autor e pode não refletir a opinião do Jornal.


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