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Um quadro do coronavírus no Brasil: sete estados estão em colapso
Helena Lima – Redação UàE – 25/05/2020
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a América do Sul, principalmente o Brasil, é o epicentro da pandemia do coronavírus no momento. Sem entrar nos números exatos é possível afirmar, segundo dados do Worldometers, que os casos de infectados e as mortes diárias seguem aumentando no Brasil como em nenhum outro país dentre os mais afetados.
Neste cenário, muitos estados estão com o sistema de saúde e funerário colapsados ou “à beira de”, agudizando a crise sanitária que o país enfrenta. Assim como em outros países, esta crise provém da pandemia, mas também do desmonte que o sistema de saúde passou nas últimas décadas, levando o Brasil à enfrentar o vírus em um contexto já crítico.
Políticas de isolamento
As regras de isolamento no país estão à cargo dos estados e municípios, não existe uma medida federal que dê homogeneidade para as políticas que hoje estão sendo implementadas. Muitas destas medidas duram apenas uma ou duas semanas, sendo logo substituídas por outras mais ou menos rígidas.
A maioria dos estados (19 dos 27, segundo a Folha de São Paulo) estão com alguma regra de isolamento social, umas mais frouxas e outras mais restritivas. O lockdown é a medida de isolamento mais rígida, faz o controle dos carros e pedestres, e pode levar à sanções como multas em caso de descumprimento; só alguns estados a adotaram e por um curto tempo.
No Pará, Maranhão, Rio de Janeiro, Tocantins e Amapá o lockdown foi adotado por uma ou duas semanas, depois foi suspenso; o Amazonas e o Paraná decretaram a medida apenas em algumas cidades que estão em estado mais calamitante.
No resto do Brasil, políticas diversas de isolamento estão em vigor: fechamento do comércio, suspensão do transporte público, proibição de acesso à parques e praias, toque de recolher à noite, entre outras.
Estados em colapso
Segundo dados da Confederação Nacional de Saúde (CNS), o sistema de saúde privado em seis estados está colapsado: Pernambuco, Pará, Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão e Amazonas. “Nesses seis estados temos um colapso nos dois sistemas. Contratar leitos de UTI privados, nesses locais, já não é mais uma saída” disse Monteiro, o presidente da CNS.
Além destes seis estados, São Paulo foi adicionado à lista como um “estado à beira do colapso” por estar com 91% dos leitos de UTI ocupados na região metropolitana e com um crescente número de casos no interior do estado.
Pernambuco
Em Pernambuco, 97% dos leitos de UTI para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) estão ocupados. As filas por um leito de UTI chegam à 200 pessoas, em esperas que podem levar até mais de uma semana, e os profissionais já estão tendo que escolher quem é assistido e quem não é. Os médicos e enfermeiros estão sobrecarregados e exaustos, pela falta de profissionais e equipamentos, como foi relatado no Estadão:
“Unidades de pronto-atendimento (UPAs), destinadas a casos menos complexos, já precisam lidar com pessoas em estágio grave de insuficiência respiratória. Sem tantos ventiladores mecânicos à disposição, socorristas se revezam para, na mão, manter o doente respirando. “O profissional fica bombeando manualmente com uma bolsa, para evitar que o paciente morra. Passa 30 minutos bombeando, depois troca para outro profissional e assim por diante” conta o médico”.
A região metropolitana do Recife é o epicentro da doença em Pernambuco. Recife e outras quatro cidades do entorno terão quarentena mais rígida até o fim do mês de maio.
Maranhão
A capital de São Luís, no início do mês de maio, já tinha atingido 100% de ocupação dos 112 leitos de UTI da rede estadual. A capital e outras três cidades passaram por 12 dias de lockdown, que terminou no dia 18, mas segue com medidas de isolamento social.
Pará
O número de UTIs no Norte, no geral, é muito abaixo da média no restante do país. O estado está com uma taxa de ocupação de leitos de UTI de 94,8%, mesmo com um número mais baixo de casos, comparado à outros estados em colapso. Segundo profissionais da saúde, o sistema de saúde da cidade de Belém já entrou em colapso.
Os depoimentos registrados em diversos jornais sobre o caso de Belém relatam pacientes morrendo no corredor, médicos e enfermeiros muito sobrecarregados, portas fechadas para atendimento em algumas UPAs e falta de equipamento. Fora dos hospitais, o sistema funerário também está colapsado. As famílias têm que esperar dias após a morte de seus familiares para a identificação e liberação dos corpos.
Amazonas
No Amazonas, a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 87%. Este estado tem uma condição específica de que todos os leitos de UTI estão concentrados na capital, Manaus. Diversos relatos apontam para uma desorganização, também, do sistema funerário da cidade, que resulta em perda de corpos e falta de profissionais nos cemitérios, por exemplo.
Leia também: Colapso no Sistema de Saúde de Manaus expõe sua fragilidade
São Paulo
Em São Paulo, 91% dos leitos de UTI estão ocupados, mesmo sendo o estado com mais leitos de todo o Brasil. No interior o aumento é mais preocupante, o coronavírus chegou em 500 dos 645 municípios do estado e a taxa de crescimento é quase 4 vezes maior do que a capital.
Em relação ao isolamento social, houveram notícias equivocadas nesta semana sobre tais medidas no estado. São Paulo não está em lockdown, o governador João Dória relatou para o The Economist que precisaria de um maior número de policiais implementar esta política. Dessa maneira, o estado está adotando outras medidas de isolamento social.
Rio de Janeiro
Na capital do Rio de Janeiro, 85% dos leitos de UTI estão ocupados. Cinco unidades de hospitais de campanha prometidas pelo Wilson Witzel (PSC), governador do estado, estão atrasadas, sendo que algumas podem nem ser abertas. Segundo estudo feito pelo Estadão sobre as medidas de isolamento social, no início da quarentena o Rio estava com 62,2% de isolamento, e semana passada recuou para 42,2%.
No começo do mês, a cidade do Rio de Janeiro tinha 292 pessoas na fila para leitos de UTI. Em entrevista realizada pela BBC News Brasil, os profissionais de saúde da capital relataram: “falta de equipamentos de proteção, baixas nas equipes, lotação e até mesmo pacientes suspeitos de covid-19 misturados com outros.”
Ceará
Segundo o secretário de Saúde do Ceará, o estado já tem oficialmente uma fila de espera de pacientes com quadros graves de covid-19, sendo que todos os leitos destinados à este fim estão ocupados. O Ceará tem 260 leitos exclusivos de UTI para os casos de coronavírus, com planos de ampliação para 560 que, segundo o secretário, estão empatados pela dificuldade de adquirir respiradores.