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Arte

Movimento [I]

Ilustração: Ariely S.
Ilustração: Ariely S.
Por Ariely S, redação do Universidade à Esquerda
15 de setembro, 2019 Atualizado: 14:41

Era o inicio das férias de inverno. O frio da ilha se tornará forte, reverentemente o final do semestre faz com que vários comecem a fumar, talvez na esperança de que tudo se torne mais fácil com o tabaco. Seja a romantização da substância ou aquele impulso jovem de querer mudar o mundo como clichês românticos acanhados em livros sobre revoluções e outros tolos em reformas. Algumas discussões sobre o uso da palavras espontaneidade em um manifesto e algumas aulas abertas com centenas mais. Ninguém sabia o tamanho daquilo. Essas crises vem de governos anteriores e porra nunca foi fácil estar naquelas paredes. É obvio que os jogos políticos começaram cedo, ainda mais com a explosão (ou implosão) do movimento. É óbvio que irão pautar interesses. Em um bar algumas pessoas olham umas para as outras e gritam:
– Bando de pelego fudido. Nem fazem nada além de falar e ainda acham que podem mandar em algo. Vão mandar em nada. É quase patético seus nomes.

3 de Setembro de 2019.
– É isso que é estar aqui dentro muito mais do que qualquer outra coisa. Se vivessem que nem a gente vive iam saber o que é inferno. Em algum momento vou me formar. Eu acho.
– Esteve aqui em 2016? Esses momentos fazem a gente crescer como ser humano, cara. Estar em movimento é o que mais transporta ensinamento. É desses desejos freudianos de sempre querer mais. Não só para a UFSC, mas para cada lugar. Alguns momentos me passam como filme e um impulso gigantesco de ocupar cada pedaço desse lugar. Cada pedaço que me pertence. Que te pertence. E que a gente jamais achou que chegaria. Mas se estamos aqui, é para permanecer. É só observar essas paredes trancadas.
– Mano, não viaja.
Os dois riem na assembléia geral dos estudantes. Tem cerca de 5000 pessoas lá.
– O desejo será o motor desse aparato. É só o começo, irmão.

5 de Setembro de 2019.
– Eu tenho certeza absoluta que vivi nesses dois meses mais de um ano. Tudo parece distantemente perto. E ela sorri de lado na roda de samba de quinta a noite enquanto desaparece entre a multidão dançando com os olhos fechados.

11 de Setembro de 2019.
– Mas o convivência não ia cair? Uma mulher que passa por lá pergunta. A outra do lado responde: – Mas mulher, a maioria dos prédios desse lugar não tem reforma a um bom tempo qualquer um pode cair nas nossas cabeças a qualquer momento esse pelo menos é da gente e não de uma fundação.

*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.


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