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Opinião

Guedes e os malefícios das privatizações

Por Beatriz Costa, redação do Universidade à Esquerda
07 de julho, 2020 Atualizado: 12:40

A ânsia privatista de Paulo Guedes parece não ter fim. Mesmo em meio a uma pandemia, no qual o número de mortos no Brasil já ultrapassa a marca do 65 mil e a situação da saúde pública, bem como do desemprego, estão catastróficas, sua única preocupação é em dilapidar o patrimônio do Brasil. Ele quer vender nossas estatais a qualquer preço, literalmente.

Em entrevista concedida no domingo, Guedes afirmou que o governo está preparando quatro grandes privatizações para os próximos três meses, mas não anunciou quais. Ao ser perguntado se os Correios seriam privatizados, ele respondeu “está na lista seguramente, só não vou falar quando. Eu gostaria de privatizar todas as estatais”.

Ao invés de fortalecer as estatais, que garantem a soberania de nossa nação, segurança alimentar, energética, entre outras, Paulo Guedes reza a cartilha neoliberal e pretende entregar o controle de tudo que existe neste país para a iniciativa privada estrangeira em troca de algum dinheiro para fingir que o desempenho do PIB não está péssimo.

O secretário de desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, afirmou na quarta-feira (1º) que o governo pretende privatizar ou conceder 12 estatais em 2021. O projeto para o próximo ano inclui a privatização da ABGF (Associação Brasileira Gestora de Fundos), Eletrobras, Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados), Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), Ceasaminas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais), Codesa (Companhia de Docas do Espírito Santo) já no primeiro semestre.

A CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre), Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), Dataprev (Empresa de Tecnologia de Informações da Previdência), Correios e Telebrás estão previstas para acontecer entre julho e dezembro do próximo ano. O Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) e a Emgea (Empresa Gestora de Ativos) estavam no cronograma para o segundo semestre deste ano.

Temos que ter em mente que uma estatal não é só um prestadora de serviços, ela atende a outras necessidades, às vezes não imediatas. O avanço de pesquisas tecnológicas nacionais, a garantia de abastecimento, a segurança de nossos dados, são algumas das coisas que as estatais que Paulo Guedes quer privatizar fazem.

Citando somente um exemplo, o Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) única empresa que pode fabricar chips na America Latina, só não foi privatizada em 2019 porque não houve compradores interessados. O governo estuda a ideia de simplesmente fechar a empresa, demitir todos os funcionários e vender seus ativos. De fato, não há interesse da iniciativa privada em investir em microeletrônica para fabricação nacional de artigos tecnológicos. É mais barato importar da China. Mas se não investirmos, nunca deixaremos de importar esses produtos, continuaremos pagando para que outros façam. Por isso que é função do Estado investir nisso. Investimento em tecnologia, indústria nacional estatal, faz com que tenhamos mais possibilidades de lidar com situações adversas, como o COVID-19, que estamos enfrentando agora.

Recentemente o Ceitec foi reduzido ao nome de “estatal do chip do boi” em alguns veículos da mídia burguesa por ter, entre as suas atribuições, a função de desenvolver chips para rasteamento de gado e outros animais. Os brincos eletrônicos, também conhecidos como “chip do boi”, são identificadores colocados na orelha dos animais com sistema de alta tecnologia que utiliza sinais de rádio frequência para monitorar informações de nutrição, uso de medicamentos, reprodução e genética. As notícias diziam que a estatal “não gera receita o suficiente para pagar suas despesas” e por isso precisaria ser liquidada e seus ativos vendidos “para pagar o prejuízo”.

Edvaldo Muniz, funcionário da Ceitec e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre (STIMEPA), ressaltou as perdas para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico do Brasil, caso a privatização ou extinção aconteça:

“Com a extinção da empresa, perderemos tudo o que desenvolvemos em termos de pesquisa e de patentes científicas. Hoje temos sensores que são capazes de detectar a COVID-19 e não podemos desenvolvê-los em larga escala por uma política do governo federal. Quer dizer, temos uma empresa pública capaz de fornecer um importante instrumento sanitário, mas que não é fabricado por falta de interesse público”

Edvaldo destaca que a Ceitec não foi criada para gerar lucro, mas para alavancar o mercado de semicondutores e fazer com que não fossem importados chips e semicondutores da Ásia, “o que ainda hoje causa um déficit de R$ 300 bilhões em nossa balança comercial. Se houvesse interesse do governo, poderíamos ser uma potência no setor”, ressalta.

Apesar de se autoproclamarem patriotas, nada do que contribui para a soberania de nosso país e nosso povo importa ao bolsonarismo. Paulo Guedes consegue ser enedótico, quase um vilão de desenho animado. Ilustro essa afirmação com uma fala dele, da semana passada:

“Você se torna um liberal ao longo de muitas décadas. Fazer um socialista leva 5 minutos porque ter um bom coração, querer ajudar os outros, isso tá nas grandes religiões, isso tá na solidariedade, na fraternidade, nós nascemos assim.”

Depois de ouvir isso, só desejo que nós brasileiros possamos juntar toda a solidariedade dos nossos bons corações e transformar isso em luta contra o bolsonarismo, contra a ideologia neoliberal e contra o capitalismo que está destruindo tudo que ainda temos.

Confira o vídeo:

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