Greve dos metroviários do DF chega ao 5º dia sob pressão da empresa
A deliberação pela greve aconteceu no domingo, um dia após a morte de um dos metroviários por Covid
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
23 de abril, 2021 Atualizado: 09:31
Os metroviários do DF seguem em greve apesar das ofensivas da companhia e do Estado. A greve começou na segunda-feira (19) e desde então seguem pressões para encerrar ou manter elevado o número de trens circulando.
Logo no primeiro dia de greve o Estado atacou a mobilização dos metroviários, através do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), exigido uma circulação mínima de 60% dos trens nos horários de pico e 40%, nos demais horários. A decisão atendia ao pedido feito pela companhia.
Ações como essa fazem parte das defesas patronais contra as greves trabalhistas. A mão do Estado, através da Justiça, pesa contra o trabalhador e seus sindicatos quando estes resolvem se colocar em luta.
Ao impedir um bloqueio maior ou total das linhas de trens, a Justiça impede a efetivação completa da greve da categoria. A justificativa normalmente utilizada apela para o impacto que paralisações dessa ordem podem causar, seja em danos materiais para empresa e ou de outra ordem, como impedimento de locomoção da força de trabalho, no caso dos metroviários.
Mas o impacto da greve é justamente a única arma do trabalhador contra os abusos das empresas, fábricas, companhias etc. Se o impacto é grande, como no caso do transporte, coleta de lixo ou da saúde, exige-se uma negociação mais rápida.
Usando o aparato da Justiça, o Estado e as empresas conseguem tolher as potencialidades da greve da categoria. No caso dos metroviários do DF, a companhia tentou uma nova investida, exigindo um novo aumento na circulação mínima dos trens. Um desembargador do TRT, nesse caso, negou a solicitação, nesta quinta-feira (22).
Com o mínimo de 60%, 14 dos 24 trens circulam durante o horário de pico. Caso os metroviários mantenham a greve sem a circulação mínima exigida pelo Estado, o sindicato recebe multa de R$ 100.000,00 por cada dia de descumprimento.
Entre as pautas da greve atual, os metroviários lutam pela restituição de descontos ilegais da greve de 2019 que, até hoje, não foram devolvidos.
A categoria também pauta pelo restabelecimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), contra o corte do auxílio-alimentação, de R$ 1,2 mil, contra a privatização do setor e por melhores condições de vida e segurança em meio a pandemia.
A decisão de entrar em greve aconteceu no domingo (18) de madrugada, um dia após um de seus companheiros metroviários morrer em decorrência da Covid-19. Paulo de Ávila Silva tinha 47 anos e faleceu no sábado (17).
Os metroviários alegam que mesmo trabalhado desde o começo da pandemia na linha de frente, seguem sendo atacados. Segundo o sindicato, a categoria trabalha há dias sem receber o vale alimentação, que foi cortado.
Segundo o secretário do sindicato, Hugo Lopes, “quem está levando a gente para a greve é o governador Ibaneis. Nós só queremos que assine o Acordo Coletivo (AC). Abrimos mão até da escala, só da sentença normativa. E a população que sofre, infelizmente. E nós também, que não queríamos optar pela greve”.
“Nós aceitaríamos a proposta feita pelo presidente do tribunal, que era prorrogação do acordo coletivo, mantendo todos os benefícios. E o governador não aceitou. Ele não está nem um pouco preocupado com a população”, explica.
Aumento na morte dos trabalhadores da linha de frente
Segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), houve um aumento nas mortes de trabalhadores ligados a atividades essenciais comparando os meses de janeiro e fevereiro de 2021 com o mesmo período no ano anterior.
Em matéria ao UàE, Nina Matos mostra que “dentre as 10 ocupações que mais registraram mortes, 4 tiveram um aumento maior que 50% comparando o mesmo período em 2020 e 2021. Trabalhadores que possuem maior contato com o público, como motoristas de ônibus urbano, operadores de caixa e frentistas, tiveram, respectivamente, 62,5%, 67,9% e 68,2% mais mortes registradas em comparação com um momento pré-pandemia e o atual cenário brasileiro”.