A direção da Eletrobras estuda novo plano de demissões consensuais para 2021, antes da operação de capitalização prevista na lei sancionada por Bolsonaro nesta terça-feira (13).
Desde que iniciou um processo de desmantelamento em vistas à privatização, em 2016, a companhia já demitiu 12 mil trabalhadores de um quadro de 23 mil. Cerca de 52% dos funcionários perderam seus empregos.
O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, considera que a redução foi exitosa e que o número atual está próximo da meta da empresa.
Mas a empresa avalia lançar mais um programa de desligamento consensual para este ano. Mas Limp não mencionou quantos trabalhadores podem ser dispensados.
Em relação às subsidiárias, Limp afirmou que a Eletrobras deixará de controlar a Eletronuclear já que a lei determina que a energia nuclear seja estatal, mas a princípio pretende manter Furnas, Eletronorte e Chesf.
Contudo, a estrutura da empresa pode ser alterada após a privatização. Com a perca do controle do Estado, os acionistas, que terão a maioria do controle da empresa, poderão fazer qualquer modificação no rumo e na estrutura da antiga estatal.
O processo de privatização da maior empresa de energia elétrica da América Latina foi consumado nesta terça-feira (13), após o presidente Bolsonaro sancionar a lei que foi aprovada pelo Congresso como Medida Provisória.
O modelo de privatização da Eletrobras será por capitalização, isto é, emissão de ações, diminuindo a participação do Estado no controle da empresa.
O Estado detém atualmente 60% das ações da estatal. Com a capitalização, esse percentual cairá para 45%. Os acionistas privados poderão ter uma fatia máxima de 10%.
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Essa é uma das formas de privatização que o Estado tem adotado. Neste mês de junho, a Petrobras anunciou que deve vender a fatia remanescente de ações na BR Distribuidora. O Estado deixou de controlar a maior distribuidora de combustíveis do país a partir da venda de ações em 2018, 2019 e, agora, em 2021 pretende vender o restante das ações.
Os sindicatos e trabalhadores da Eletrobras fizeram alguns movimentos de resistência à entrega da empresa.
No dia 15 de junho, os trabalhadores da Eletrobras iniciaram uma paralisação de 72 horas contra a privatização da empresa. O movimento mobilizou um grande número de trabalhadores e atingiu diferentes unidades em todo o país. Até agora não houve porém sinal de um movimento grevista mais contundente por parte da categoria.
Sindicatos da categoria têm se limitado ao âmbito do Estado, tentando derrubar a privação na Justiça ou em outras frentes, como em denúncia feita à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Crise hídrica
É possível que o Brasil enfrente uma crise hídrica em um período curto de tempo, o que pode levar a um racionamento no consumo de energia. A projeção parte da análise dos reservatórios do subsistema que concentra 70% da geração hídrica do país.
A Eletrobras representa 30% da geração de energia e quase 50% da transmissão. Segundo Renato Queiroz, engenheiro e professor do Grupo de Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o processo de privatização deve levar a uma redução na capacidade da empresa.
Com o processo de privatização, a estatal tende a perder capacidade técnica do conjunto de empresas que formam a Eletrobras. Nesse tramite, a empresa começa a dar incentivos de aposentadorias, o que reduz o quadro de pessoal qualificado e, por consequência, reduz a capacitação técnica.
De outro lado, durante um processo de privatização, a estatal reduz sua capacidade de investimento a fim de reduzir contratos, empréstimos e endividamentos, que poderiam ser usados para aplicar em obras, como na construção de novas hidroelétricas. Segundo Queiroz, a estratégia tende a ser de reduz os investimentos.
Na crise hídrica de 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, o processo de privatização foi paralisado e a estatal foi utilizada para reduzir os impactos da crise naquele ano.