Em meio às revelações da CPI que expõem a negligência do governo Bolsonaro frente a pandemia da Covid-19, está a revoltante constatação de que o governo negou a compra de vacinas que haviam sido oferecidas pela Pfizer em agosto de 2020, a oferta era de 70 milhões de doses, que apenas 6 meses depois foram adquiridas. O epidemiologista Pedro Hallal calculou que no mínimo 95 mil vidas poderiam ter sido salvas se o governo tivesse comprado as vacinas quando elas foram oferecidas.
A informação de que o governo recusou as vacinas veio do gerente-geral da farmacêutica Pfizer, ele relatou que o governo recusou três ofertas das 70 milhões de doses da vacina Pfizer/BioNTech, cujas primeiras doses poderiam ter sido entregues em dezembro de 2020. Somado a este relato, está o do diretor do Instituto Butantan, que constata a rejeição do governo de três ofertas de 60 milhões de doses da vacina Coronavac que foram feitas em julho de 2020, mas apenas aceitas em janeiro de 2021. Com esses relatos e os dados epidemiológicos da doença no Brasil, o pesquisador Hallal chegou às aproximações de seus cálculos, nos quais tentou ser conservador. Ele mesmo fala que o número de vidas salvas provavelmente seria ainda maior.
Em seus cálculos, Hallal considerou variáveis como a eficácia da vacina, quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus e a taxa de letalidade estimada. A subestimação do resultado baseia-se no fato de que o pesquisador, por exemplo, considerou a taxa de letalidade como 1%, que é a aproximação para a população geral, mas essa taxa é muito maior em idosos com mais de 80 anos. O pesquisador poderá ainda fazer cálculos mais precisos, ele afirma que esses resultados “certamente darão números ainda maiores” de vidas perdidas pela negligência do governo.
Bolsonaro carrega sangue nas mãos. Não apenas pelas vacinas não compradas, mas também pela negligência nas medidas de segurança e pela promoção do negacionismo. Além da promoção da Cloroquina como tratamento para a Covid-19, a negligência na crise de oxigênio no Amazonas, a falta de auxílio que pudesse garantir que os trabalhadores fizessem o isolamento apropriado, e assim segue a lista. Considerados todos esses fatores, quantas vidas, de verdade, foram vítimas desse governo?
O Brasil contabiliza mais de 490 mil mortes pela Covid-19 hoje, e tudo indica que a marca de 500 mil mortes está próxima, mas o presidente não está satisfeito. Mês passado, os dados mostraram que 5 milhões de brasileiros não haviam retornado para tomar a segunda dose da vacina, e nesse contexto nosso infeliz presidente decide mentir abertamente que as vacinas ainda estão em estado experimental.
Bolsonaro não apresenta nenhum tipo de remorso pelas mortes que ele causou, o comportamento é, de fato, o contrário. Em uma conversa com apoiadores, em um desrespeito que é de praxe, o presidente promove um relatório falso que afirma que 50% das mortes dos óbitos por Covid-19 ano passado não foram de fato por Covid. A fonte dele seria o Tribunal de Contas da União (TCU). O TCU já se apressou para negar que o relatório que questiona as mortes exista, e criou uma comissão para investigar o autor do relatório apontado por Bolsonaro, o servidor Alexandre Costa Silva Marques. O servidor foi afastado por 60 dias e responde a um processo administrativo disciplinar.
A gravidade do absurdo proposto pelo presidente se torna ainda maior considerando que a Organização Mundial da Saúde propõe que, ao contrário de superestimadas, o número de mortes pode ter sido de 2 a 3 vezes maior do que o contabilizado. A expulsão de Bolsonaro é cada vez mais emergencial, e qualquer que seja o governo ou sistema que se beneficia de decisões negligentes, absurdas, abusivas, e perigosíssimas, não merece ter nas mãos a gestão do nosso país. Pelas vidas perdidas e pela dignidade da classe trabalhadora, que possamos lutar contra os valores Bolsonaristas. No próximo sábado, 19 de junho, juntemo-nos aos atos Fora Bolsonaro.
Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.