Com elevada inflação e desemprego, aumenta inadimplência de famílias
Condições de vida da classe trabalhadora apenas se deterioram no desenrolar da crise brasileira
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
12 de abril, 2021 Atualizado: 20:56
O ônus da crise econômica e sanitária têm sido jogado para os ombros dos trabalhadores brasileiros, que têm pago com sangue, suor e sofrimento. Além do aumento nas mortes de trabalhadores ligados a atividades essenciais, a classe tem enfrentado elevados índices de desemprego, subocupação e terceirização que, somados à inflação crescente, tem se refletido num aumento das dívidas das famílias e consequente aumento da inadimplência.
Segundo dados do Banco Central, atrasos acima de 90 dias em empréstimos alcançaram 2,3% em fevereiro, crescimento de 0,14 ponto em relação a dezembro.
Os atrasos de 15 a 90 dias chegaram a 3,08% em fevereiro, crescimento de 0,23 ponto percentual — maior percentual desde maio do ano passado.
No fechamento das faturas de cartão de crédito rotativo, 11,1% não conseguiram pagar o valor total da fatura. Uma alta de 1,57 ponto percentual em relação a dezembro.
A deterioração dos salários frente ao intenso aumento da inflação obriga as famílias a manter ou ampliar a busca por crédito para conseguir manter níveis básicos de consumo. De acordo com indicador da Serasa Experian, a busca por crédito aumentou 20,1% em março de 2021 em comparação ao mesmo mês de 2020.
A busca por crédito foi maior entre as frações mais precarizadas. Entre os trabalhadores que recebem até R$ 500 mensais houve uma alta na busca de 26,9%. Entre trabalhadores que recebem entre R$ 500 a R$ 1 mil, a alta foi de 21,4%.
A busca por crédito e dificuldades em pagá-lo refletem a deterioração das condições de vida dos extratos da classe trabalhadora: elevado índice de desemprego somado ao aumento constante da inflação.
Em março de 2021, a inflação acumulada dos últimos 12 meses chegou a 6,10%, com base no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) disponibilizado pelo IBGE. Só neste mês houve um incremento de 0,93% no preço dos bens e serviços básicos.
A taxa do mês é a mais elevada desde 2016, quando atingiu 1,32%. Se considerarmos apenas o índice acumulado para este ano, a inflação já bateu 2,05%.
Dentre os grupos de produtos e serviços que mais inflacionou no período, estão os transportes (+ 3,81%), puxados pelo aumento nos preços de combustíveis (11,23%). Habitação (+ 0,81%) e alimentação e bebidas (+ 0,13%) também tiveram aumentos significativos.
O resultado é uma degradação do poder de compra das famílias. Dentre as negociações de reajustes salariais concluídas em fevereiro deste ano, mais de 70% dos acordos tiveram reajuste abaixo da inflação. Segundo levantamento preliminar feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a situação se manteve em março. Isso representa uma incapacidade dos trabalhadores de compensar as perdas da inflação acumuladas no último ano.
Se de um lado se recebe abaixo das necessidades de consumo, de outro, não se tem trabalho, nem auxílio emergencial.
O desemprego segue afligindo mais de 14 milhões de brasileiros. Acrescenta-se a esse número cerca de 32 milhões que conseguem trabalhar apenas parcialmente.
Dentre os que conseguem algum emprego, 39,7% estão em condições de informalidade, segundo levantamento para o trimestre de novembro a janeiro.
Para agravar, quase 60% da população brasileira, que recebia auxílio emergencial até ano passado, parou de receber o auxílio. A política só voltou a ser paga em abril deste ano. Dos 66 milhões que receberam o aporte em 2020, apenas 40,6 milhões seguirão recebendo as próximas quatro parcelas, com um valor que pode variar de 25% a 62,5% do que era no ano passado.
Na outra ponta, o número de bilionários saltou 44% neste ano. São 65 bilionários em 2021, ante 45 no ano anterior. Juntos, eles detêm 219,1 bilhões de dólares, aproximadamente R$ 1,2 trilhão – quase o PIB do país. Durante a crise econômica e sanitária, essa riqueza aumentou 72%.
Isso posto, se escancara quem está de fato pagando pela crise brasileira que avassala as condições de vida dos trabalhadores, quando não as toma.