Jornal socialista e independente

Cláudio Ribeiro

Cláudio Rezende Ribeiro é professor da FAU-UFRJ (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) onde atua com ensino de urbanismo, meio ambiente e história da cidade na graduação e no Programa de Pós-graduação em Urbanismo – PROURB/FAU/UFRJ. É pesquisador do Laboratório de Direito e Urbanismo e participa do coletivo PERIFAU. Foi presidente de seção sindical do Andes-SN na UFRJ, a Adufrj-ssind de 2013 a 2015, e integrou a a diretoria nacional deste sindicato de 2016 a 2018. Defende uma universidade pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada. Acredita que a cidade só se realiza no conflito.

Vidas docentes importam!

19 de março, 2021 11:35

Arte: Cláudio Ribeiro; Montagem sobre a obra “A Incredulidade de São Tomé” (1601) de Caravaggio.

O terraplanismo, etapa superior do negacionismo científico, ou a expressão do senso comum do anti-intelectualismo[1], ganha contornos bastante violentos ao se tornar uma ação que, em nome de um questionamento ao status quo, reforça-o; ou em nome de uma reação à opressão, oprime; ou ainda em nome de uma suposta promoção do dissenso impõe, pela força, um consenso.

Sua base de operação é uma espécie de curto-circuito entre um certo positivismo, que estabelece a razão como sinônimo de verdade, e a religião, tida aqui como o reino do incontestável. Mas, ao mesmo tempo, não se trata de fé pura – uma crença sem comprovação necessária; e tampouco de ciência – que tem a comprovação como sua crença. O terraplanismo atua em um limiar que se situa na devoção de algo que, apesar de não demandar comprovação no campo da realidade, precisa demonstrar sua existência enquanto ideia. Seu conteúdo pode ser irreal desde que sua forma esteja presente, uma espécie de adoração pelo anunciado, uma crença no atestado, na certificação. Uma tautologia dos tolos. Não interessa se o Santo fez um milagre, aliás, não interessa o milagre, mas apenas o santo, ou o messias. Trata-se de uma fé oca apoiada em um pseudo-cientificismo que tem como teoremas, pelo óbvio, as notícias falsas espalhadas em massa pelas redes sociais: seu lugar de culto.

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