Jornal socialista e independente

Olinda Evangelista

É professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFSC). Pesquisadora do Grupo de Investigação em Política Educacional (GIPE-Marx), sediado na UFSC. Em seus estudos de política educacional privilegia o tema da formação docente e a defesa inconteste da escola pública e seu papel crucial na formação da classe trabalhadora. Também é bordadeira.

Quando dói mais o bolso do que a alma, ou a “educação” do capital

22 de setembro, 2020 Atualizado: 22:07

Em coautoria com Renata L. B. Flores*.

Imagem: Littus Silva, Gênesis, Terracota, 2016

Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas
verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais,
agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de
um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que
compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida.
(Mikhail Bakhtin, 2009, p. 98-99)

Eu não vi bem-te-vi, beija-flor nem juriti, a passarada
Eu não vi jaboti, não vi coral, sucuri
[…]
Eu fui à Corumbá pra no Pantanal olhar…
Vi quase nada
(Itamar Assumpção, 1988)

Desde março do corrente ano, quando a epidemia do coronavírus se instalou no Brasil e nos fez imergir numa crise sanitária de proporções assustadoras, estamos sendo inundados por reportagens, debates e pronunciamentos acerca da necessidade imperiosa da adoção do ‘ensino’ remoto, agora em pleno andamento [1]. Anunciado como estratégia emergencial para mitigar os impactos negativos da suspensão das aulas nas escolas e universidades, o ‘ensino’ remoto vinha acompanhado de argumentos aparentemente solidários socialmente: não se poderia prejudicar os estudantes pelo não acesso ao conhecimento; não se poderia prejudicar os formandos; não se poderia arrancar dos alunos as oportunidades que os preparariam para a vida e o trabalho; não se poderia descuidar dos vulneráveis que tanto necessitariam da escolarização; não se poderia promover a evasão escolar; não se poderia obstaculizar o futuro. Essas proposições foram encabeçadas por reconhecidas organizações do empresariado, das quais destacamos o Todos Pela Educação (TPE). Em muitas de suas atividades, atuou em conjunto com o Conselho Nacional de Educação (CNE), com outras organizações fortemente vinculadas ao Estado, como o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Contou ainda com representantes do Banco Mundial (BM) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) [2].

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