Jornal socialista e independente

Olinda Evangelista

É professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFSC). Pesquisadora do Grupo de Investigação em Política Educacional (GIPE-Marx), sediado na UFSC. Em seus estudos de política educacional privilegia o tema da formação docente e a defesa inconteste da escola pública e seu papel crucial na formação da classe trabalhadora. Também é bordadeira.

Escolarização da classe trabalhadora no pós-pandemia: “quanto vale ou é por quilo?”

21 de julho, 2021 Atualizado: 21:24

Em coautoria com Priscila Monteiro Chaves*

A superexposição de seres humanos em degradantes condições de vida faz extravasar sentimentos e emoções. Sente-se nojo, espanto, piedade, carinho, felicidade, e, por fim, alívio. E ainda faz uma boa dieta na consciência. (Bianchi, 2005)[1]

 

O Todos Pela Educação (TPE)[2] e o Itaú Social[3] realizaram, em 30 de junho corrente, o webinário A educação brasileira em perspectiva internacional (TPE; ITAÚ SOCIAL, 2021). Na ocasião, veio à luz o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2021), traduzido pelo TPE (2021), que, frente à sua percepção do panorama educacional brasileiro, preconizam os caminhos que devem seguir as políticas educacionais na conjuntura atual. Participaram Andreas Schleicher, Diretor de Educação e Assessor Especial em Política Educacional da Secretaria Geral da OCDE[4]; Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social; Priscila Cruz, presidente executiva do TPE, e Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). Sobre a última, Cruz afirmou que fez muito (?) para o Brasil e que “[…] deveríamos agradecê-la por tantos avanços[5], feitos que inclusive dispensariam sua apresentação.[6]

Quem está habituado a ler relatórios de Organizações Multilaterais imagina o que encontrará nos textos, tanto em termos de análise de conjuntura, quanto de proposta de solução para os “problemas elencados”. No caso presente, o que temos? A injusta comparação entre a condição degradada em que sobrevive a educação pública no Brasil com países que progrediram para deles extrairmos práticas exitosas, soluções “científicas” afiançadas para a nossa escola. Em tese, aquelas experiências “inspiradoras” fariam a diferença na vida dos estudantes, dado que a formação dos professores não vai lá tão bem e a escola pública também não. Nesse sentido, Schleicher (2021) não se encabula de exprimir tamanho reducionismo:

Isso é muito importante mantermos em mente: a pobreza e a desigualdade, é claro, acontecem […] mas, vemos que os resultados da educação no Brasil ainda estão abaixo do que o Brasil precisa atingir para aumentar seu desenvolvimento social e econômico. Você pode dizer que é a história do Brasil, mas é a história do Brasil e do mundo todo. A China, o Vietnã, a Índia têm melhorado sua educação rapidamente e na verdade são concorrentes em termos de mão de obra com os brasileiros no mercado global.[7]

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