O banco de investimento brasileiro Banking and Trading Group Pactual é o principal acionista do Inteli, faculdade privada que está em vias de ser instalada dentro da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP).
Inteli é o nome fantasia do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Ciência da Computação (IBTCC), que deve ser implantado no campus do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), dentro da Cidade Universitária.
O IPT é um renomado instituto público de pesquisa que, apesar de não pertencer à USP, mantém laços históricos de pesquisa com a universidade.
O contrato entre o IPT e a faculdade privada Inteli, com duração de 15 anos, foi realizado com dispensa de licitação e é sigiloso. Segundo a Associação dos Docentes da USP, a empresa “estima investir” R$ 59 milhões na reforma da infraestrutura e “se comprometeu a investir” outros R$ 60 milhões com bolsas, formação de professores e no projeto pedagógico da faculdade.
O Inteli deve oferecer quatro cursos de graduação: Engenharia da Computação, Engenharia de Software, Ciência da Computação e Sistemas de Informação. Três desses cursos já são oferecidos pela própria USP.
MIT e Vale do Silício à brasileira
O Inteli vem sendo apresentado como embrião de uma versão brasileira do Massachusetts Institute of Technology (MIT). O banqueiro André Esteves, investiu R$ 200 milhões na faculdade para bancar seu projeto de criar uma faculdade com ênfase nas tecnologias digitais.
Segundo Roberto Sallouti, principal executivo (CEO) do BTG Pactual, o IPT “é um campus ao estilo de Harvard ou MIT, no meio de São Paulo, com uma Mata Atlântica nativa, preservada. Teremos uma área de campus arborizada, uma entrada pela Cidade Universitária, com uma entrada nossa”.
O modelo é inspirado em escolas de negócios estadunidenses, onde há presença de empresários e hubs de tecnologia. A instituição pretende relacionar o ensino técnico com o desenvolvimento de competências como liderança, cidadania e empreendedorismo.
A parceria com o instituto público deriva do programa “IPT Open Experience”, instituído pelo governo João Doria (PSDB) com a finalidade de criar em São Paulo um polo de tecnologia digital.
“O Vale do Silício brasileiro para ter escala global precisa atrair talentos de todo país e de todo o mundo. O que os investidores precisam hoje no Brasil é estabilidade, é respeito das instituições e é isso que esse tipo de contrato nos permite fazer, uma parceria onde nós temos regras claras, todo modelo transparente de gestão. Estamos dando um próximo salto em investimento e tecnologia”, disse Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do governo de SP.
Segundo a CEO do Inteli, Maíra Habimorad, não haverá vínculo entre os projetos desenvolvidos na faculdade e o banco. A CEO também falou que o valor da mensalidade ainda não está definido mas deve ser nivelado aos preços das faculdades de prestígio na área. Um semestre para os cursos de engenharia no Insper, por exemplo, custa mais de R$ 30 mil.
A investida é parte da política empresarial de se aproveitar da estrutura, recursos, pesquisas e cientistas formados pelas universidades públicas brasileiras. Através da convivência dentro do campus da USP, a faculdade privada consegue promover sua imagem ao mesmo tempo que se apropria das pesquisas desenvolvidas nos centros de pesquisa.
Além disso, a faculdade terá plenas condições de absorver pesquisadores de destaque, em detrimento da USP.
Atualmente, o grosso da pesquisa científica brasileira é produzida dentro das universidades públicas.
Estudantes em contraposição
Em nota, o Centro Acadêmico de Matemática, Estatística e Computação (CAMat), entidade representativa dos estudantes, se posicionou contra a instalação do Inteli na Cidade Universitária.
Mais de 40 entidades estudantis de diversos campi da USP assinaram carta apresentada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), em assembleia geral intercampi.
“Há anos nossa universidade atravessa batalhas contra o estrangulamento do orçamento para a pesquisa e, em um momento de extrema fragilidade para a educação, com todos os cortes a nível estadual e federal, o governo do estado aprofunda o processo de privatização dos serviços e espaços públicos”, destacam as entidades.