Jornal socialista e independente

Opinião

CONUNE, um congresso inofensivo

Imagem: Divulgação do 57o Congresso da UNE 
Imagem: Divulgação do 57o Congresso da UNE 
Por Lara Albuquerque, redação do Universidade à Esquerda
02 de agosto, 2019 Atualizado: 17:16

Entre os dias 10 e 14 de julho aconteceu o 57º Congresso da UNE (Conune) em Brasília. Poderia significar uma enorme retomada de fôlego a realização de um congresso que reúne um número gigante de estudantes de todo o Brasil, sendo o maior evento deliberativo do movimento estudantil, num momento em que a educação superior sofre enormes ataques do governo Bolsonaro, e que a população vivenciou uma onda de manifestações gigantes que tomaram as ruas após os cortes e contra a reforma da previdência. Porém essa potencialidade toda fora desperdiçada, o CONUNE não serviu para retomada de fôlego, foi sim um “gasto de energia” – parafraseando uma fala recente de um dirigente do DCE da UFSC que ouvi em uma assembleia estudantil, porém ele quando dizia que os estudantes iriam gastar energia se dirigia à plenária de uma assembleia estudantil que deliberava sobre liberando sobre ir às ruas no 30M contra os cortes na educação.

Naquela ocasião, recém anunciado os primeiros cortes, os atos pelo Brasil não estavam sendo necessariamente chamados pelas entidades, aconteceu um breve momento de impulso e sem depender de formalismos alguns pequenos grupos começaram a sair se manifestando, panfletando, etc, a sensação era de que alguma coisa precisava ser feita e logo. Meio a essa o primeiro grande ato nacional aconteceu em 15 de maio, o 15M, as manifestações foram enormes.

Era notório que o movimento saira das zonas de controle das entidades, era necessário dar mais uma data e logo no final do primeiro  ato fixou-se uma data, o 30 de maio, o 30M, e como numa sequência já se sabia que o dia 14 de junho seria o dia de greve geral contra a reforma da previdência.. As entidades então puderam se orientar por algo, vejam, que vinha de cima, que vinha da UNE, a UNE passou a dirigir as datas e ditou o tempo para o movimento metabolizar as primeiras manifestações.

Começou-se a formar um acúmulo político e nas lutas, um caldo, um ciclo de lutas e foi interrompido no momento que as entidades passaram a dirigir os processos e o encerraram após o 14J.

O CONUNE se avizinhava, poderia sair dalí alguma coisa, mas a verdade é que a UNE e seu próprio Congresso há muito não são capazes de apresentar aos estudantes qualquer perspectiva nem se quer de resistência, quem dirá de enfrentamento. Ironicamente três dias após seu término o MEC apresentou o novo projeto Future-se e antes de fechar o mês, em 31/07 um novo corte na educação de 348,47 milhões. Ainda que o novo presidente da UNE tenha ido fazer sua manifestação na apresentação do Future-se, percebe-se que é isso que a UNE se presta a fazer, subir em palanques, fazer suas falas, aparecer e no momento seguinte chacoalhar a mão do ministro e secretário do MEC e sentar na primeira fileira da apresentação.

A grande maioria dos estudantes na universidade não reconhecem na UNE qualquer coisa, e atualmente o CONUNE não tem significado algum para os estudantes que não estão em alguma organização, partido, coletivo e afins.

Esse esforço todo, que todos esse movimento estudantil faz para estar lá todo congresso é exatamente o que a majoritária quer que façam, assim como quando fixam as datas de atos e ninguém ousa propor mais de um ato além do chamado nacional da UNE, é esse o papel que quer que cumpram e não demoram a aceitar.

Isso posto, é admirável que, frente aos enormes ataques que as universidades estão sofrendo ininterruptamente, as energias de boa parte do movimento estudantil esteja em construir 21 teses para um congresso de uma entidade que há anos blinda os governos e qualquer possibilidade de radicalização de lutas. O que não significa advogar pelo abandono de tal entidade, mas que é admirável que tantos estudantes, tantas forças da juventude apostem num congresso que passou a ser irrelevante às massas estudantis e inofensivo à conjuntura, à luta de classes e à relação de forças, a ponto de a Câmara dos Deputados aprovar a primeira votação da reforma da previdência durante o seu acontecimento na mesma cidade.

E irrelevante e inofensivo é tudo que o movimento estudantil não pode ser agora.

*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do jornal.

Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.


Compartilhe a mídia independente