Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Restaurante Universitário (RU) foi fechado em março de 2020, alguns dias depois da suspensão das aulas em decorrência da pandemia de COVID-19, e permanece fechado há dois anos.
Nesse meio tempo, diversas atividades voltaram a ser realizadas nos campi da universidade, como atividades de pesquisa e laboratoriais, principalmente das áreas de engenharia, saúde e ciências biológicas. Com isso, muitos estudantes de graduação e pós-graduação que voltaram a frequentar o espaço da universidade tiveram que se organizar, da maneira que puderam, para se alimentar durante o dia.
Alguns levam marmitas e procuram algum micro-ondas nos prédios da universidade para esquentá-las; outros compram algum salgado nas lanchonetes dos arredores para almoçar (as lanchonetes que ficam dentro do campus estão fechadas); outros ainda ficam sem comer durante todo o dia e voltam a se alimentar quando chegam em casa à noite.
Essa situação, unida ao iminente retorno presencial completo das atividades, para o qual parece não estar havendo o devido planejamento na UFSC, motivou a Associação de Pós-graduandos (APG UFSC) a iniciar uma campanha pelas condições de retorno presencial.
A campanha iniciou com a publicação de relatos de estudantes de pós-graduação que já estavam em atividades presenciais; continuou com a divulgação de um questionário na qual todos os estudantes poderiam relatar a sua situação na pandemia, em relação ao retorno presencial e à necessidade do RU; e culminou em um dia de mobilização na universidade, com uma audiência pública com a reitoria, marcada com antecedência.
A mobilização contou com o apoio Sindicato de Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina (SINTUFSC), que forneceu a estrutura para a atividade presencial, e com o apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE UFSC), que divulgou amplamente a campanha e a mobilização entre a graduação.
As reinvindicações à reitoria incluíram a reabertura imediata do RU com manutenção do seu preço de antes da pandemia, que era de R$1,50; a reabertura da biblioteca universitária como um espaço de estudos, já que atualmente está somente emprestando livros, sem a possibilidade de uso do prédio; a segurança sanitária no retorno presencial, com a distribuição de máscaras PFF2 para toda a comunidade universitária, um plano concreto que contemple a ventilação adequada das salas e outras medidas de proteção contra o coronavírus.
Além das reivindicações, a mobilização serviu para debater entre os presentes as condições de ensino-aprendizagem no ensino remoto, os cortes orçamentários que vem sendo enfrentados pelas universidades públicas, as condições precárias de estrutura na universidade, o aumento do custo de vida durante a pandemia, o aumento do custo dos aluguéis na cidade de Florianópolis, entre outros assuntos. Desta forma, a mobilização serviu também para retomar o histórico de lutas da UFSC, repassar às novas gerações de estudantes alguns dos importantes enfrentamentos que foram feitos em anos anteriores, sendo o exemplo mais recente a greve contra o future-se que parou a UFSC em 2019.
Durante a mobilização, também foram expostos os relatos de mais de 900 estudantes sobre a necessidade do restaurante universitário. Como forma de intervenção política, os relatos foram impressos e colados com fita adesiva nas paredes externas do prédio da reitoria, sobre os painéis de mosaico de azulejos de autoria do artista plástico Rodrigo de Haro, que se tornaram uma atração turística no campus central da universidade.
O compilado de relatos constitui uma documentação que retrata a situação dos estudantes durante a pandemia, muitos deles mostram uma situação preocupante de insegurança alimentar, restrição de alimentação e desespero em relação às condições materiais de sobrevivência. Esses relatos também foram entregues à reitoria, como reivindicação que a direção da universidade se preocupe também com a condição de vida de seus estudantes.
Na audiência pública, os cerca de 70 estudantes presentes cobraram duramente os representantes da reitoria, incluindo o próprio reitor. Ali foi anunciado que o restaurante universitário do campus central passaria a servir 700 marmitas por dia, somente para estudantes da pós-graduação, a partir da próxima semana. A reitoria também garantiu que o preço seria mantido em R$1,50 e que a quantidade de marmitas seria revista semanalmente, se forma a acompanhar o retorno de mais estudantes para a universidade.
Os estudantes ficaram bastante insatisfeitos com a medida apresentada, pois não contempla os estudantes de graduação, do Colégio Aplicação (ensino médio e fundamental), do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (educação infantil), nem de outros Campi (Joinville, Blumenau, Araranguá, Curitibanos e Centro de Ciências Agrárias em Florianópolis).
A justificativa apresentada é que os outros campi tem restaurantes terceirizados, que precisam de uma negociação individualizada, em relação à graduação, a justificativa seria que a Pró-reitoria de Assistência Estudantil disponibilizou um auxílio para os estudantes de baixa renda com cadastro ativo, esse auxílio era no valor de R$ 200,00 mensais e no ano de 2022 foi aumentado para R$ 300,00 mensais. Em relação aos estudantes de ensino médio, fundamental e educação infantil não foi apresentada nenhuma justificativa.
Ainda conforme a reitoria, as marmitas seriam somente para a pós-graduação porque esse nível de ensino já está com aulas presenciais. Porém, na área da saúde a graduação também está com aulas presenciais e nem por isso foi contemplada pela política das marmitas.
A diferença que de fato existiu é que a pós-graduação se mobilizou através da APG UFSC, enquanto a mobilização na graduação foi muito fraca, com pouca participação do DCE UFSC e participação pontual de alguns Centros Acadêmicos.
As marmitas começarão a ser distribuídas para a pós-graduação na segunda-feira, 14 de março, nos horários do almoço e da janta e deverão ser consumidas no próprio local.