Jornal socialista e independente

Cláudio Ribeiro

Cláudio Rezende Ribeiro é professor da FAU-UFRJ (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) onde atua com ensino de urbanismo, meio ambiente e história da cidade na graduação e no Programa de Pós-graduação em Urbanismo – PROURB/FAU/UFRJ. É pesquisador do Laboratório de Direito e Urbanismo e participa do coletivo PERIFAU. Foi presidente de seção sindical do Andes-SN na UFRJ, a Adufrj-ssind de 2013 a 2015, e integrou a a diretoria nacional deste sindicato de 2016 a 2018. Defende uma universidade pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada. Acredita que a cidade só se realiza no conflito.

A esquerda cordial e a hipótese neoliberal

11 de novembro, 2021 Atualizado: 19:52

Parte 1 – uma esquerda cordial

“A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas” (Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, p.160 – edição de 1999)

Não é à toa que Antonio Candido considerou, em seu famoso prefácio, que Raízes do Brasil se tornara um clássico de nascença. Passados quase cem anos da obra incontornável de Sérgio Buarque de Holanda, permanece a impressão de que o Brasil se torna, cada vez mais, um conjunto de mal-entendidos no qual sempre impera uma democracia lamentável. Mesmo quem serve aos donos do poder tem se confundido bastante, como no caso recente do derretimento de Paulo Guedes, o cringe. O mercado chegou a revelar que acreditava que a milícia ia respeitar a lei de responsabilidade fiscal, como se também fosse signatária, de caneta BIC, de uma espécie de carta aos brasileiros. Ora, quando eles batem cabeça temos duas reações simultâneas: na aparência, podemos até nos divertir com os deslizes dos trapalhões poderosos, mas na essência sofreremos as piores consequências que nos lançarão em condições de reprodução social ainda mais miseráveis, injustas e brutais – e dá-lhe consumo de osso, xepa de caminhão de lixo, aumento de desemprego, austeridade seletiva radicalizada, massacres. Estamos há anos vivendo um jogo em que as brigas das frações burguesas conduzem a totalidade das decisões políticas, sem espaço para qualquer manobra distributiva, nem mesmo para qualquer tentativa ou desejo de conciliação.

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