Após um novo chamado nacional para realizar um “Breque dos Apps” no dia 11 de Setembro, entregadores de São José do Campos, interior de São Paulo, realizaram um movimento de paralisação que foi além, e de forma inusitada, efetivou uma greve de seis dias na cidade.
No dia 17 de Setembro a paralisação foi encerrada, mediante a promessa de que a Ifood realizará uma reunião com o movimento de trabalhadores da cidade no próximo dia 28, para negociar uma taxa mínima de entrega de R$7,00. O movimento afirma que está dando uma trégua até o dia da reunião com a empresa, convocando os entregadores de todo o país a pararem conjuntamente em um novo #brequedosapps no dia 28. A promessa é de que a greve se estenda caso o acordo não vá adiante.
O chamado nacional do Breque dos apps do dia 11 “contra o terrorismo dos aplicativos” tinha previsão de paralisações principalmente em algumas capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Natal, Fortaleza, Goiânia, Salvador, Curitiba, Recife, João Pessoa, Boa Vista e Porto Alegre. Já em São José dos Campos, segundo os entregadores envolvidos no movimento, a adesão à paralisação foi se dando de forma repentina, mobilizada principalmente por um vídeo do canal “Treta no Trampo” que ensinava como bloquear a saída dos pedidos. Os entregadores começaram a debater e se dividir para realizar os breques por grupos de whatsapp.
O movimento contou com a adesão e a participação na linha de frente das lideranças OL’s (Operador Logístico), uma espécie de terceirizada da Ifood que fornece uma frota de entregadores fixos para a empresa. Estes entregadores devem cumprir uma jornada fixa de trabalho e ainda assim só recebem por entrega realizada e não possuem acesso à nenhum direito trabalhista — os gerentes dessas equipes são chamados de líderes de praça.
A greve inédita também contou com apoio de restaurantes da cidade, que em sua maioria se desligaram da plataforma durante o horário comercial. Ao conseguir bloquear os principais pontos de entrega e entrar em contato com os entregadores que não estavam cientes da mobilização, a paralisação teve impacto em toda a rede de delivery da cidade, que conta com cerca de 3 mil trabalhadores cadastrados só na plataforma Ifood.
Ao final do primeiro dia de greve os entregadores se reuniram e deliberaram pela continuidade da paralisação, e assim ocorreu sucessivamente nos dias seguintes.
Conforme o movimento se estendia e não havia resposta dos aplicativos, foram organizadas vaquinhas por pix. Os entregadores grevistas receberam contribuições de todo o país, para ajudar no apoio financeiro dos trabalhadores e para manutenção das rondas, que levavam alimentos e água para o suporte dos pontos de brecagem das entregas.
Segundo a reportagem da Ponte Jornalismo, a reunião de negociação com a Ifood foi articulada por um homem conhecido como Johnny, que entrou em contato com as lideranças do movimento da cidade e prometeu o reajuste da taxa e uma promoção de bonificação de R$5,00 por corrida até o dia da reunião. A reportagem da Ponte realizou um levantamento com motoboys de diversas regiões do país, e ao que tudo indica, este sujeito tem atuado nacionalmente, às escondidas, para mediar e tentar frear os ânimos da relação entre os movimentos de entregadores e o aplicativo Ifood, sem possuir vínculos públicos e oficiais com a empresa. A bonificação prometida pelo articulador se efetivou como uma promoção de R$3,00 apenas aos finais de semana.
A greve de São José dos Campos chama a atenção por ser a paralisação mais longa de entregadores de aplicativos no país e unir diferentes modalidades de trabalhadores das plataformas, pois geralmente a diferenciação entre nuvem e OL acirra a competição entre esses trabalhadores e os últimos não costumam aderir às paralisações organizadas no país.
Além disso, ocorre em um momento em que a inflação tem pesado sobre as costas dos trabalhadores, com altas absurdas nos preços dos combustíveis e dos alimentos, enquanto a prioridade do congresso nacional continua sendo a aprovação de contrarreformas, como a PEC 32, da Reforma Administrativa, que visa também rebaixar as condições de trabalho e acirrar a competição entre pares no serviço público.
Que a luta dos trabalhadores de São José dos Campos possa inspirar outros conjuntos de trabalhadores do país a responderem à altura da subordinação que tem sido imposta com cada vez mais força nos últimos anos, pelos capitais que estão por trás destas e outras empresas que organizam a intensificação da deterioração das condições de vida da classe trabalhadora na periferia do capitalismo.