Metroviários do DF deliberam greve por tempo indeterminado
Deliberação acontece um dia após morte de metroviário por Covid-19
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
19 de abril, 2021 20:48
Metroviários do Distrito Federal entraram em greve às 00h desta segunda-feira (19). A decisão foi tomada em assembleia da categoria neste domingo (18). Os trabalhadores aprovaram greve por tempo indeterminado.
A decisão dos trabalhadores é uma forma de lutar contra a política de precarização e privatização do governo Ibaneis Rocha (MDB-DF). Os trabalhadores aderem a greve após tentarem negociar, sem êxito, com o governo. Os metroviários pautam melhores condições de trabalho, com garantia de vacinação e direitos trabalhistas, e lutam contra o avanço da privatização deste setor pelo governo.
A deliberação pela greve acontece um dia após a morte de Paulo de Ávila Silva, 47 anos, companheiro metroviário do DF, que morreu em decorrência da Covid-19. Os metroviários alegam más condições de prevenção ao contágio do coronavírus.
A categoria também protesta contra o corte do auxílio-alimentação, de R$ 1,2 mil, e pelo restabelecimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). Os metroviários também citam “descumprimentos judiciais, como os descontos ilegais da greve de 2019 que, até hoje, não foram devolvidos”.
O movimento grevista é articulado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários (Sindmetrô). Além da greve entre metroviários do distrito, trabalhadores dos transportes de diversas capitais estão com indicativo de paralisação e protestos para esta terça-feira (20).
O Estado atacou rapidamente a greve legitima dos trabalhadores metroviários. Em decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), a categoria ficou coagida a garantir 60% dos trens em circulação nos horários de pico. Na semana passada, o secretário de Relação Sindical, Hugo Lopes, havia informado que o sindicato previa manter 30% do sistema em funcionamento.
Isso significa que ao todo, 14 dos 24 trens circulam durante o horário de pico.
Caso os metroviários mantenham a greve sem a manutenção de 60% do transporte, será infligido ao sindicato uma multa de R$ 100.000,00 por cada dia de descumprimento.
Mesmo após a morte de um dos funcionários por Covid-19, a companhia ousou dizer que a greve seria um risco para a saúde pública, neste momento da pandemia. Para os empresários da companhia, “a greve dos metroviários coloca em risco a saúde pública e o esforço coletivo de governo e da sociedade, que há mais de um ano combate os efeitos devastadores da covid-19”.
Na verdade, o acordo foi engado pelo governador, conforme explica o secretário Hugo Lopes. “Nós aceitaríamos a proposta feita pelo presidente do tribunal, que era prorrogação do acordo coletivo, mantendo todos os benefícios. E o governador não aceitou. Ele não está nem um pouco preocupado com a população”, explica.
“Quem está levando a gente para a greve é o governador Ibaneis. Nós só queremos que assine o Acordo Coletivo (AC). Abrimos mão até da escala, só da sentença normativa. E a população que sofre, infelizmente. E nós também, que não queríamos optar pela greve”, frisou Hugo Lopes, secretário de relação sindical do SindMetrô. A principal reivindicação da categoria é o restabelecimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Segundo a liminar do TRT, o sindicato deve manter ao menos 60% da operação nos seguintes casos: a) Em dias úteis: a.1) horários considerados de pico, será das 6h às 8h45 e das 16h45 às 19h30; a.2) horários denominados de “vale” diurno das 8h45 às 16h45; e a.3) horários denominados de “vale” noturno, das 19h30 às 23h30.
b) aos sábados: b.1) horários de “pico”, das 6h às 9h45 e das 17h às 19h15; b.2) horários de “vale” diurno, das 9h15 às 17h; e b.3) horários de “vale” noturno, das 19h15 às 23h30.
c) aos domingos e feriados, circularão 40% (quarenta por cento) dos trens que, normalmente, operam em tais dias.
Aumento na morte dos trabalhadores da linha de frente
Segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), houve um aumento nas mortes de trabalhadores ligados a atividades essenciais comparando os meses de janeiro e fevereiro de 2021 com o mesmo período no ano anterior.
Em matéria ao UàE, Nina Matos mostra que “dentre as 10 ocupações que mais registraram mortes, 4 tiveram um aumento maior que 50% comparando o mesmo período em 2020 e 2021. Trabalhadores que possuem maior contato com o público, como motoristas de ônibus urbano, operadores de caixa e frentistas, tiveram, respectivamente, 62,5%, 67,9% e 68,2% mais mortes registradas em comparação com um momento pré-pandemia e o atual cenário brasileiro”.