Em fevereiro, a reitoria da Universidade de Brasília (UnB), anunciou uma proposta de cooperação entre a universidade e o Estado de Israel, por meio da inserção de empresas israelenses no pólo tecnológico da UnB.
Na postagem em que anuncia a proposta, a reitora da UnB defende que a internacionalização é “um dos aspectos mais importantes para a melhoria de indicadores acadêmicos”.
Como resposta, docentes da universidade redigiram uma carta-manifesto à reitoria — que apenas confirmou seu recebimento, sem se manifestar sobre o conteúdo.
Em assembleia extraordinária, no dia 22 de março, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), redigiu uma moção contrária à proposta, denunciando os crimes que Israel vem comentendo contra o povo palestino.
Além da problemática da inserção de empresas privadas dentro da universidade, a proposta torna-se ainda mais absurda por tratar-se de uma cooperação com o país que vem cometendo massacres cotidianamente contra o povo palestino.
Frente à pandemia do Covid-19, não apenas o Estado de Israel não cessou, como também escancarou o genocídio contra os palestinos. Enquanto Israel é o país com maior avanço na vacinação contra o coronavírus, palestinos são privados das vacinas por bloqueios e confiscos, têm armazéns de insumos médicos destruídos e até mesmo a água, sendo considerada como propriedade israelense, é negada.
A proposta de cooperação da reitoria da UnB faz vistas grossas aos crimes de Israel. Cooperar com um Estado de apartheid não deve ser uma tarefa da Universidade — e é isto que significa cooperar com o Estado de Israel, é cooperar para a manutenção da opressão contra o povo palestino.
Abaixo, na íntegra, a moção produzida pela ADUnB:
Em fevereiro de 2021 foi divulgado na página do Facebook da reitora da Universidade de Brasília o comunicado de uma proposta de colaboração realizada com o embaixador de Israel e o convite à empresas israelenses para se instalarem no parque científico e tecnológico da universidade. Em resposta, um grupo de docentes e discentes integrantes da UnB enviaram uma carta-manifesto para a reitora cujo conteúdo apelou para a rejeição de tal colaboração com base em dados documentados que evidenciam o caráter racista e expansionista de Israel e do regime de apartheid que o caracteriza.
O posicionamento contrário à proposta de colaboração se dá por se tratar de uma cooperação com Israel, um Estado de apartheid, fato este amplamente conhecido e mais recentemente reiterado no relatório da ONG israelense de Direitos Humanos B´Tselem, intitulado “ This is apartheid: The Israeliregime promotes and perpetuates Jewish supremacy betweenthe Mediterranean Sea and the Jordan River” (https://www.btselem.org/publications/fulltext/202101_this_is_apartheid)
O que tem faltado ainda na ocasião oportuna de uma declaração à comunidade universitária é a identificação de quais e em quê seriam estas colaborações acordadas e em tratativas. Incidiriam sobre que atividades acadêmicas, de pesquisa e extensão, com quais instituições acadêmicas e de pesquisa, com quais empresas, para quais tecnologias, fabricadas onde e se extrai sua matéria-prima em territórios ilegais a luz do direito internacional.
São várias universidades em países diferentes que expressaram esta postura anti- colaboracionista. Pode-se exemplificar com as Universidades de Illinois e Columbia que tiveram referendos ratificando a não participação em programas e fundos compartilhados com entidades participantes da espoliação de palestinos. O departamento de Análises sociais e Culturais da Universidade de Nova York cortou as relações oficiais com o campus de Tel Aviv. O Conselho do Pitzer College votou a favor de suspender ações com a Universidade de Haifa. Resoluções nesta linha foram aprovadas por membros da Associação Nacional de Estudos de Mulheres nos EUA; a Associação Nacional de Estudos Chicanos e Chicanas; a Associação paraEstudos Indígenas e Nativo-Americanos; a American Studies Association; A Associação para a Sociologia Humanista dos EUA; a Associação para Estudos Asia-Americanos; as Universidades sul-africanas de Joanesburgo, Cape Town, Pretória, KwaZulu-Natal e Setellenbosch; a União de Professores e a NUI Galway Students’ Union da Irlanda;a Associação de Estudantes da Universidade de Sidney Ocidental; a Associação de Professores Universitários do Reino Unido também votou a favor de boicote às colonialistas Universidades de Haifa e Bar-Illan.
A Associação dos Docentes da UnB (Adunb) alia-se a essas demandas e se coloca frontalmente contrária a qualquer cooperação com o Estado de apartheid de Israel, o que afrontaria princípios fundamentais, como direitos humanos, e convenções internacionais. Assim, reitera a reivindicação de que a Reitora mantenha a UnB como espaço livre de apartheid.