O Brasil continua sendo o segundo país com mais mortes causadas pela Covid-19, estando abaixo apenas dos Estados Unidos. Com mais de 4 milhões e meio de casos confirmados, o Brasil alcançará em breve o marco de 140 mil óbitos sem vislumbre de uma melhora nessa situação.
Nesse momento, há praticamente 7 meses do início da pandemia, parece que não há mais quem queira ouvir sobre coronavírus; e esta foi interpretação para escolha política do governo Bolsonaro, de que a classe trabalhadora do país sentiria antes o efeito da crise econômica do que a sanitária, que pouco se afetaria com as consequências já que falta trabalho e falta comida.
Realmente, o país passa por uma crise sem precedentes, em que o desemprego atingiu mais da metade da população e passou deixar marcas nas relações cotidianas. Ao sair para as ruas é extremamente visível o impacto disso, há cartazes de procura de emprego estão por todo lugar. É um momento extremamente delicado. Mesmo assim, falar sobre as implicações do coronavírus é inevitável, até mesmo porque trouxe consequências estruturantes para o país.
Uma delas é o fato de que, como foi tratado em outro texto, a pandemia reajustou os padrões de consumo da classe trabalhadora em favor da exportação de alimentos, sem nenhum tratamento político da situação, mesmo que o cotidiano fosse marcado por essa condição, já que cada retorno do mercado as sacolas eram menos pesadas.
A situação também abriu brechas para que o governo Bolsonaro fizesse avançar algumas pautas da classe dominante, como é a proposta de Reforma Administrativa; além disso, as discussões sobre privatizações retornaram, mesmo que tivessem parado de vir ao público há mais de um ano, tendo em vista as tentativas frustradas de Bolsonaro.
Ao que é possível compreender, haviam formas menos traumáticas para passar pela pandemia do Covid-19, como o controle da disseminação dos casos, afinal o Sistema Único de Saúde (SUS) já conta com um programa de atendimento mais próximo aos bairros e cidades no qual poderia ser estruturado um programa de intervenção mais direta no cuidado com a transmissão. E também priorizar a testagem em massa da população, com testes gratuitos, já que tanto vemos notícias de universidades que conseguiram produzir testes mais baratos.
É claro que, mesmo que a aposta bolsonarista era de que a insatisfação da classe seria focada na crise econômica, a classe com certeza foi a mais afetada com a pandemia, tanto que vimos como o índice de contaminação nos frigoríficos foi enorme, e se solidarizou com sua comunidade, bairro ou cidade, expresso nas ações em algumas favelas em que os próprios moradores buscavam cuidar uns aos outros.
Mesmo com o desenvolvimento de testes mais baratos nas universidades públicas e com formas de controlar a disseminação do vírus, o controle do Covid-19 não é nem de perto a prioridade para o momento. Além disso,a esquerda, que poderia apresentar seu projeto de sociedade, apostou no tratamento desses problemas como se fossem morais e, sem perceber, contribuiu para a insalubridade dos processos de luta.
Portanto, estamos hoje pior do que estávamos no início da pandemia, mesmo com mais informações sobre a dinâmica do vírus, pois a consequência da escolha política que fez a classe dominante do país para aproveitar os momentos de crise como uma forma de fazer prosperar os seus capitais foi devastadora e fez com que o governo pouco tivesse que lidar com a pandemia.
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