#RetiraHoracio: Possível intervenção mobiliza comunidade da UFPR
Comunidade da UFPR faz campanha para que a chapa com menos votos retire-se da lista tríplice
Por Nina Matos, redação do Universidade à Esquerda
16 de setembro, 2020 18:12
A ameaça da escolha de um reitor-interventor por parte de Bolsonaro paira sobre a Universidade Federal do Paraná (UFPR). O processo de consulta para reitoria, que moveu mais de 17 mil pessoas, teve seu resultado oficializado no dia 8 de setembro.
Nesse processo disputaram apenas duas chapas, sendo a 1 composta por Horácio Tertuliano dos Santos e Ana Paula Cherobim e a 2 composta por Ricardo Marcelo Fonseca e Graciela Inez Bolzon de Muniz — candidatos a reitor e vice, respectivamente. Com 91,11% dos votos válidos, a comunidade acadêmica da UFPR elegeu a chapa 2 como projeto de continuidade da atual gestão.
Por tradição da UFPR desde 1985, as chapas derrotadas nas votações retira-se da lista espontaneamente a fim de evitar que seja escolhida pela presidência chapa diferente da com maior porcentagem de votos no processo.
Entretanto, a chapa 1 ainda não manifestou sua retirada na lista, mesmo tendo quase sido encaminhada pelo Colegiado Eleitoral na última quinta-feira (10) — que suspendeu sua sessão por incertezas jurídicas.
O histórico da disputa pela reitoria
Desde o início do processo já especulava-se sobre a possibilidade de intervenção, visto a aproximação da chapa 1 com o governo Bolsonaro.
Eleitores assumidos, Ana Paula Cherobim em suas redes sociais até mesmo estampa fotos com camisetas do Aliança Pelo Brasil, além de expor declarações xenófobas sobre a origem do Covid-19 e defender o uso da cloroquina e ivermectina. Sobre a cloroquina, Cherobim fez o compartilhamento de um texto afirmando:
“ricos, médicos e famosos sendo tratados em hospitais particulares com cloroquina; enquanto os pobres do SUS aguardam a ciência.”
Horácio Tertuliano dos Santos, por sua vez, além de não comparecer a debates entre as chapas declarou em entrevista ao Jornal Plural que a UFPR é “doutrinadora e assistencialista”, além de defender maior participação dos capitais privados na formação de estudantes, afirmou que “lotar” turmas com alunos cotistas “Vai baixar o nível do curso”.
O histórico de Horácio como diretor do Departamento de Tecnologia também carrega a negligência com a instituição e sua comunidade. Em maio de 2019, enquanto toda a UFPR lidava com as incertezas dos repasses de verbas, Horácio fez o pedido de R$ 60 mil em tapetes persas e cortinas para o gabinete do departamento. No mesmo ano, pedidos para compras de computadores foram negados por “falta de recursos”.
Indignação por parte da comunidade acadêmica
Com a falta de uma resposta sobre a retirada da chapa da lista tríplice, as entidades representantes da comunidade universitária se mobilizaram contra a possível intervenção.
Em conjunto, a APUFPR, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Paraná (Sinditest-PR), o Diretório Central Estudantil (DCE) e a Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFPR organizaram atos presenciais, com buzinaços e confecção de cartazes, e virtuais, levantando a hashtag #RetiraHoracio.
No Twitter, um vídeo mostra um carro de som, a princípio em frente ao prédio em que reside Horácio. Nele, um homem lê uma mensagem pedindo que o candidato retire seu nome da lista.
Intervenções pelo país
As intervenções nos processos de escolha dos reitores das universidades e institutos federais fazem parte do projeto político de Bolsonaro, já conhecido saudosista da ditadura militar, se aproveita das terríveis heranças deixadas por este período.
Em julho de 2019, ao comentar sobre a autonomia universitária em um evento com parlamentares da bancada evangélica, Bolsonaro proferiu a seguinte declaração, lamentando a forma como se dá o processo de decisão de reitores:
“Ali virou terra deles, eles é que mandam. Tanto é que as listas tríplices que chegam pra nós muitas vezes não temos como fugir, é do PT, do PCdoB ou do PSOL. Agora o que puder fugir, logicamente pode ter um voto só, mas nós estamos optando por essa pessoa.”
De acordo com o levantamento feito pelo Andes-UFRGS, do início de seu mandato até agosto deste ano, Bolsonaro já havia nomeado pelo menos 11 interventores em instituições federais de ensino, seja através da nomeação de candidatos que não encabeçaram a lista, seja através da nomeação de reitores que sequer concorreram ao cargo. Com os recentes acontecimentos, a lista de instituições sob intervenção chega a 13.
Lista de instituições sob intervenção:
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ)