Vivemos em uma crise sanitária cada vez mais caótica, com hospitais públicos e privados em colapso e com número de mortes diárias que não param de subir e bater recordes. Com as novas mutações do vírus Covid-19, as previsões são ainda mais alarmantes, elevando ainda mais o ritmo de transmissão.
Já são 43 dias seguidos com a média móvel de mortes acima da marca de 1 mil, 7 dias acima de 1,1 mil, e pelo quinto dia a marca aparece acima de 1,2 mil. Nesta quarta-feira (03/03), foram registradas 1,8 mil mortes num dia – o maior número desde o início da pandemia.
Em mais da metade dos estados brasileiros, a ocupação de leitos de UTI supera 80%. Atualmente o Brasil já possui mais de 259 mil óbitos causados pelo vírus.
Além do descaso com a prevenção do vírus, decorrente da falta planejamento do governo em promover medidas como amplas testagens em massa, parcas medidas restritivas e com o ritmo lento de vacinação, não podemos perder de vista neste debate, como apontou Lalo Minto em sua coluna aqui no UàE publicada nesta terça-feira (02/03), a dimensão da reprodução sistemática da dependência, o que faz com que países como o Brasil se mantenha em sua condição dependente, sem autonomia no setor. O autor aborda aspectos desse processo de sucateamento da capacidade produtiva do país, articulada com o processo de reestruturação da economia brasileira das últimas décadas e seu forte acento desindustrializante, além do desmonte/precarização das instituições públicas de pesquisa e produção científica.
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Um dos fatores alarmantes em relação ao contágio é o fato do surgimento de novas cepas que se espalham pelo país, que é um terreno fértil para a propagação e aparecimento das mutações virais por conta da vacinação lenta e contato entre vacinados e variantes.
A variante brasileira do Sars-Cov-2, E484K, uma das alterações do vírus identificada na cepa P.1, surgiu na região norte do Brasil e possui uma taxa de transmissibilidade alta, cerca de 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que o vírus original e reinfecta quem já teve contato com o vírus, podendo substituir a variante que chegou no país em março de 2020, prejudicando ainda mais o sistema de saúde que já está beirando o colapso total.
A Fiocruz nesta quarta-feira (03/03) comunicou a análise que fez em oito Estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país, a qual constatou a prevalência das variantes mais preocupantes do coronavírus Sars-CoV-2 em pelo menos seis deles. O dado, obtido a partir de uma nova ferramenta de análise genética, indica que há uma dispersão geográfica dessas variantes nos Estados, assim como uma alta prevalência em todas as regiões avaliadas.
A ferramenta usada é capaz de detectar a mutação no vírus que é comum nas três variantes que mais vem preocupando o mundo atualmente, as chamadas “variantes de preocupação” ou VOCs, na sigla em inglês, e são associadas à uma maior transmissibilidade – a P.1, identificada inicialmente no Amazonas e agora registrada em pelo menos dez estados brasileiros, a B.1.1.7, originada no Reino Unido e com registro dessa variante no Distrito Federal, Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro, e a B.1.351, na África do Sul, sem registros no Brasil até o momento.
Confira abaixo o índice percentual da variação cepa 1 encontrada nas amostras coletadas pela Fiocruz em 8 estados:
Ceará: 71,9%
Paraná: 70,4%
Santa Catarina: 63,7%
Rio de Janeiro: 62,7%
Rio Grande do Sul: 62,5%
Pernambuco: 50,8%
Alagoas: 42,6%
Minas Gerais: 30,3%
Além de já estar se espalhando pelo território brasileiro, a variante de Manaus já foi detectada em 25 países. Atualmente, é reforçado o fechamento de fronteiras com o país.
Para a contenção e redução nas taxas de infecção atuais, diversos cientistas e pesquisadores alertam mais uma vez para a necessidade da vacinação em massa, combinada com medidas de restrição de contato social, como lockdown federal, uso de máscaras e fechamento de comércio enquanto a imunização avança. Além disso, há também uma necessidade de atualização da vacina para garantir eficácia contra as novas mutações.
Diante deste cenário, alguns estados começam a realizar medidas mais restritivas, tal como em Fortaleza, que deu início hoje ao lockdown até o dia 18 de março. Entretanto, a realidade da maioria dos municípios até o momento são medidas restritivas insuficientes (como por exemplo com curta duração, se restringindo aos fins de semana), falta de fiscalizações, volta das aulas presenciais, bem como a falta de comprometimento para assegurar a vida de trabalhadores que precisam sair diariamente para trabalhar.