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Retorno das aulas em Manaus: infecção de professores e início de greve

Com reabertura das escolas, professores se contaminaram, unidades fecharam e greve foi deflagrada

Reabertura das escolas públicas em Manaus. Fonte: Reprodução Tácio Melo/Secom
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
13 de agosto, 2020 Atualizado: 23:18

A retomada das aulas presenciais para 110 mil alunos das 123 escolas da rede pública estadual de Manaus resultou na contaminação de docentes, suspensão de aulas em algumas unidades e início de uma greve de professores e pedagogos.

Nesta segunda-feira (10), as aulas da rede pública foram retomadas presencialmente, de forma escalonada, para os estudantes de ensino médios e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). As turmas de ensino fundamental devem retomar as aulas a partir de 24 de agosto.

O retorno tem sido feito de forma híbrida (presencial e remoto) e escalonada (metade dos estudantes em um dia, outra metade em outro). Mas as medidas não são suficientes para garantir a segurança dos docentes, dos estudantes e de seus respectivos familiares. 

Após dois dias da abertura das escolas, ao menos duas unidades tiveram que suspender novamente as aulas presenciais devido a casos de Covid-19 entre docentes. O Colégio Militar da Polícia Militar V – Tenente Coronel Cândido José Mariano e o Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) Agenor Ferreira Lima suspenderam as atividades nesta quarta-feira (12).

Uma professora da Escola de Tempo Integral Maria do Céu, na Zona Norte de Manaus, também testou positivo. Mas as atividades presenciais foram suspensas apenas durante a terça-feira para nova desinfecção no local.

Amazonas foi o primeiro estado brasileiro a liberar a reabertura das escolas particulares, no dia 6 de julho, e é também o primeiro a retomar as aulas em escolas públicas. O estado registrou nesta quarta-feira (12) um total de 108 mil casos confirmados e 3,4 mil mortes causadas pela Covid-19.

Na capital amazonense, o número de óbitos por coronavírus deu um salto de 73% na semana de 5 a 11 de agosto em relação às anteriores. Especialistas apontam uma possível “segunda onda” da Covid em Manaus, pois o número óbito é um indicador tardio da circulação do vírus — o que significa que as infecções aumentaram há cerca de três semanas.

Devido às implicações da Covid no estado e sobretudo na capital muitos pais não se sentem seguros em deixar seus filhos retornarem a escola.

“Aqui em casa quase todo mundo pegou e, graças a Deus, ficamos bem, mas ele perdeu uma tia, minha cunhada, e um colega dele perdeu o avô, então ele sabe bem do que essa doença é capaz, não é uma gripezinha. Preferimos não arriscar, mesmo com a pressão para a preparação para o Enem. O ano, a gente recupera”, disse uma das mães.

Além de estudantes, muitos professores não compareceram ao trabalho nos primeiros dias de aula.

O Sindicato dos Professores de Manaus (Asprom Sindical) convocou greve a partir desta terça-feira (11) em contrariedade à retomada das aulas presenciais. Ao todo, mais de 1 mil associados fazem parte da Asprom, entre pedagogos e professores. 

O secretário de Comunicação da entidade, Lambert Melo, destacou o risco de contaminação com o retorno presencial neste momento. 

“Só podemos falar em retorno quando a pandemia estiver controlada. A partir daí vamos discutir outras questões, como a reforma das janelas para facilitar a circulação do ar”, afirmou.

Segundo Melo, a Asprom Sindical pretende acionar a Justiça do Amazonas para impedir a volta presencial das aulas. A Justiça já negou um pedido da Defensoria Pública Estadual (DPE) para impedir a retomada das aulas na rede pública na semana passada.

Além dos professores de Manaus, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam) também tem combatido o retorno das aulas presenciais neste momento. O Sinteam orientou os professores a não comparecerem às escolas.

“O que avaliamos é que ainda não é o momento de retomarmos as aulas presenciais. É preciso rever esse posicionamento”, disse a presidente do Sinteam, Ana Cristina Rodrigues.

Com dois casos confirmados e um suspeito de professores com Covid-19, o Sinteam denuncia que há risco de contaminação em massa nas escolas públicas. O sindicato pretende apresentar denúncia ao MP-AM (Ministério Público do Amazonas)

Além dos docentes, estudantes também se manifestaram contra o retorno das aulas. Entre angústia e ansiedade pelo retorno das aulas e reencontro com colegas, há estudantes que denunciaram a política irresponsável de retorno presencial. 

Intervenção de estudantes contra o retorno presencial das aulas. Fonte: Reprodução.

Na terça-feira, estudantes protestaram fixando cruzes em frente à sede do Governo do Amazonas, em Manaus, simbolizando as contaminações e mortes que deve advir do retorno prematura das aulas presenciais.

Paraná, São Paulo e Distrito Federal também estão com data prevista para reabertura das escolas. 


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