Registro de óbitos ultrapassa nascimentos em duas regiões do país
Sul e sudeste registraram mais mortes que nascimentos em abril deste ano
Por Nina Matos, redação do Universidade à Esquerda
12 de abril, 2021 Atualizado: 20:21
Pela primeira vez em 42 anos, uma região do país registrou mais mortes do que nascimentos no mês. São nas regiões sul e sudeste do país que, segundo o portal da Transparência do Registro Civil, os registros de óbito ultrapassaram os de nascimento.
Considerando somente as 50 cidades mais populosas do Brasil, 12 registraram mais óbitos em relação aos nascimentos. Destas, há cidades onde os registros de morte pelo coronavírus representam até 60% do total — como, por exemplo, o município de Uberlândia, onde 63% das mortes registradas são por Covid-19.
No estado do Rio Grande do Sul (RS), 60% dos óbitos foram diretamente causados pelo Covid-19. Neste mês de abril, o estado registrou 3.814 óbitos — uma diferença de 787 em relação aos nascidos. O RS enfrentou colapso no sistema de saúde juntamente com seus vizinhos Paraná (PR) e Santa Catarina (SC), convivendo com a falta de leitos de UTI e risco de desabastecimento de oxigênio.
Comparando os três estados da região sul, é o RS quem mais influencia no atual cenário. PR conta com 2.776 nascimentos e 2.775 óbitos, já SC, 2.234 e 1.777 respectivamente.
No sudeste, a diferença entre os dados dos registros é maior e em todos os quatro estados da região os óbitos superam os nascimentos.
As discussões anteriores à pandemia sobre a mudança na relação entre óbitos e nascimentos marcavam que a inversão daria-se a partir do ano de 2047. Contudo, a atual crise sanitária e econômica não apenas elevou o número de óbitos — implicando na redução de dois anos na expectativa de vida — como também fez muitas famílias repensarem seus planos reprodutivos.
Este outro lado da mudança — a diminuição da taxa de natalidade — está especialmente atrelado à crise econômica que perdura no Brasil. Os altos índices de desemprego, a saída do mercado de trabalho de metade das mulheres em idade ativa, aumento no custo de vida, entre outros, produz um cenário de incertezas sobre o futuro, levando muitas pessoas a adiar ou desistir do projeto de tornar-se mãe ou pai.
Além do impacto que essa inversão causará na demografia brasileira, tais dados evidenciam as prioridades do atual governo. A vida de milhões de pessoas não passa, para o capital, de um sacrifício necessário para a manutenção (e, se possível, aumento) de seus lucros.