No último sábado (1), professores da educação básica das escolas privadas da cidade do Rio de Janeiro se reuniram em Assembleia e decidiram por se manter em greve por tempo indeterminado, diante do retorno das aulas presenciais que estava marcado para essa segunda-feira (3).
A Assembleia virtual contou com a participação de mais de 500 professores, dos quais 98% votaram favorável a continuação da greve, que iniciou em 6 de julho, por partilharem da opinião de que ainda não é seguro que se volte às atividades presenciais nas escolas, podendo custar a vida de crianças, professores e demais trabalhadores das instituições.
A decisão por continuar em greve se deu por os professores não se sentirem seguros com a retomada e por discordarem do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e governador do Estado, Wilson Witzel (PSC), que decidiram por reabrir as escolas em meio à pandemia do novo coronavírus.
O prefeito Marcelo Crivella e os donos das escolas particulares realizam pressão para o retorno presencial. A prefeitura autorizou, no dia 20 de julho, o retorno às atividades presenciais nas escolas privadas a partir do dia 3 de agosto, caso os donos das escolas assim o queiram . A medida vale para os 4º, 5º, 8º e 9º anos do ensino fundamental. A permissão ocorre mesmo sem condizer com as medidas restritivas do estado para evitar a propagação do novo coronavírus, que permanecem em vigência pelo menos até o dia 5 de agosto. O Estado do Rio de Janeiro já acumula 13.572 mortes.
O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro (SinepeRio), entidade patronal que representa os donos das escolas, publicou na última semana, às vésperas da assembleia dos professores, vídeo que nega a realidade da crise sanitária que se enfrenta no país, além de apresentar um discurso anti científico ao colocar as medidas de contenção do contágio, como o isolamento social, como ineficientes.
“os meses se passaram (…) aprendemos a conviver com o vírus (…) a covid-19 nunca irá de todo, o que acaba é o medo. Hoje, sabemos lidar, tratar, nos proteger, respeitando as rotinas, as regras e os protocolos. Estamos prontos. Fizemos o dever de casa. A escola privada está pronta para reiniciar. (…) Estudos só confundiram. Trancar todos em casa não é ciência. Confinar é desconhecer, ignorar, subtrair vida, é fragilizar, debilitar, mexer com o emocional. As crianças precisam voltar a se relacionar, brincar, refazer laços e amizades, rever seus amigos. É hora de reflorir, recriar no novo tempo. O sol precisa tornar a brilhar!”. (trechos do vídeo).
O vídeo propaga mentiras. Assim como outras instituições e estabelecimentos, as escolas privadas não se encontram prontas para reiniciar, o tratamento da Covid-19 ainda não é cientificamente conhecido. O medo de perder suas vidas e de seus entes queridos permanece entre a população.
Os professores consideraram o vídeo criminoso. Pais e outros responsáveis pelas crianças também se indignaram e escreveram carta aberta repudiando a circulação do vídeo. Em outros estados do país, como Santa Catarina, vídeos semelhantes também circulam por parte das entidades patronais para forçar o retorno às aulas.
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De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro-RJ), Afonso Celso, o “vídeo é uma declaração de guerra aos professores da rede privada”. “Decidimos manter a greve por ainda não visualizarmos segurança para esse retorno(…) Nenhum órgão de saúde que temos consultado nos assegura que o momento de retorno é esse. O número de casos de Covid-19 tem aumentado. No Rio está estabilizado, mas estabilizado em uma alta.”
Os professores anunciaram que apenas retornarão presencialmente com o respaldo de órgãos e instituições oficiais da ciência, como Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Organização Mundial da Saúde (OMS). A próxima assembleia da categoria está marcada para o dia 15 de agosto.