Petroleiros: 25 dias de greve e nada de nacionalização
Por Martim Campos, redação do Universidade à Esquerda
30 de março, 2021 Atualizado: 20:22
Há 25 dias, petroleiros da Bahia, Amazonas, Espírito Santo e das bases do Sindipetro Unificado de São Paulo estão promovendo greves regionais. Na sexta-feira passada (26/03), os trabalhadores da Unidade de Xisto (SIX), no Paraná, também aderiram à greve por tempo indeterminado.
Na manhã dessa segunda-feira (29), trabalhadores próprios e terceirizados da Refinaria Landulpho Alves na Bahia, continuaram aderidos à greve, que tem como pauta em seu movimento a defesa do Sistema Petrobrás e contra o desmonte da estatal, que vem se intensificando no governo Bolsonaro, principalmente no Nordeste, acarretando na alta dos preços da gasolina, diesel e o gás de cozinha.
Também está na pauta de grande parte dos sindicatos reinvindicações contra as precárias condições sanitárias de trabalho, agravadas com o crescimento de casos de Covid-19 entre os trabalhadores de unidades marítimas e terrestres, além do aumento dos riscos de acidentes.
Segundo o boletim de monitoramento da Covid-19 divulgado na segunda-feira passada (22/03) pelo Ministério de Minas e Energia, a Petrobrás totalizava 5.684 petroleiros contaminados, o que representa 12,2% do total de trabalhadores próprios da empresa, sem contar os trabalhadores terceirizados, que são os mais expostos à contaminação.
No Espírito Santo, uma parada estava programada na plataforma no início de abril, quando um surto de Covid-19 já havia sido denunciado pelo Sindicato. Em nota nesta segunda-feira (29/03), o Sindipetro-ES adiou a parada por conta de uma série de serviços que são realizados na plataforma, que poderiam confinar até 500 trabalhadores em um mesmo espaço.
Atos no dia 24/03
Na quarta-feira passada (24/03) quando os petroleiros completaram 20 dias de greve e mobilizações regionais por segurança nas unidades do Sistema Petrobrás, bases da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) participaram do Dia Nacional de Lutas, aderindo ao chamado da FUP em vários estados em atividades virtuais com debates ao vivo e presenciais, com o chamado para o “Lockdown em Defesa Da Vida e dos Direitos”.
Em São José dos Campos, o ato do Sindipetro-SJC foi em conjunto com os servidores municipais da Educação, que fizeram um dia de paralisação em protesto contra as aulas presenciais que continuam acontecendo, mesmo no pior momento da pandemia.
Em Recife, a atividade presencial teve início na Ponte Duarte Coelho, em frente ao Cinema São Luiz, seguida de caminhada até o Palácio do Governo.
Em São Paulo, na base do Sindipetro Unificado SP, os ônibus chegaram vazios à unidade, com adesão em massa ao lockdown.
Em 25 dias de greves e atos, ainda não há uma greve nacional dos petroleiros, que se fosse firme, poderia incentivar outros setores dos trabalhadores a paralisarem, enfrentando as privatizações e a política de preços da companhia. A política das mesa de negociações acabam sendo frequentes, barganhando as suspensões de greves que poderiam se juntar à um corpo cada vez maior de trabalhadores. Essas suspensões acontecem quando demandas locais são consideradas atendidas, como no caso de Minas Gerais, onde os trabalhadores da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG), decidiram, na noite da segunda-feira passada (22/03), suspender temporariamente a greve sanitária iniciada na unidade, por uma crença de que “seja possível construir uma relação de diálogo capaz de prezar a vida”, como afirmou o coordenador-geral do Sindipetro/MG, Alexandre Finamori. Em assembleia teve como resultado 89% de aprovação do indicativo de suspensão da greve e manutenção das negociações, 6% de votos contrários e 5% de abstenções.
Nas bases do Sindipetro-SP, a direção sindical aponta como enfraquecimento do movimento as punições aplicadas aos grevistas, além das diminuições dos trabalhadores, com incentivos como o do Plano de Demissão Voluntária, e da companhia iniciar um processo de terceirização de setores e cargos essenciais, fragilizando vínculos de trabalho e, consequentemente, o poder de mobilização da categoria. Até 2019, foram mais de 270 mil trabalhadores desligados da Petrobrás. Tais pautas de repúdio à política de demissões e assédio contra dirigentes da Petrobrás dentro das greves são de longo prazo, onde o enfraquecimento da companhia através de planos de demissão voluntária e terceirizações tem sido constante há pelo menos 5 anos.