Desde o início de Março, o Paraguai vive uma onda de protestos contra o Presidente Mário Abdo Benitez, em função da falta de ações para conter a pandemia e a ínfima vacinação realizada na população do país. Após a negação e arquivamento do pedido de afastamento do Presidente pela Câmara de Deputados do Paraguai, ontem (17/03), houveram manifestações em frente ao Congresso Nacional, em Assunção, e a sede do Partido Colorado foi incendiada.
O arquivamento do processo foi liderado pela atuação do deputado Basílio Núñez, líder da bancada do Honor Colorado, corrente majoritária do Partido Colorado. A discussão do pedido foi antecipada por uma solicitação de sessão extraordinária por parte do deputado, que pegou desprevenida a oposição que havia solicitado a abertura do processo. O pedido foi rejeitado por 42 votos contrários e 36 favoráveis.
O estopim dos protestos que pedem a renúncia do Presidente, foi a escassez de dois medicamentos utilizados para sedar os pacientes em UTIs. Além disso, o governo havia vacinado apenas 0,1% da população do país, que é composta por 7 milhões de habitantes e mesmo com doações do Chile, sequer houve conclusão da vacinação dos profissionais de saúde. Na Ciudad del Leste, os paraguaios estavam atravessando a fronteira para buscar atendimento em Foz do Iguaçu (PR), segundo o portal UOL, ⅓ dos pacientes atendidos na cidade brasileira estavam vindo do país vizinho. Entretanto, há cerca de cinco dias a cidade também está colapsada e com filas para Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
No ápice dos protestos o governo colocou franco-atiradores nos prédios, prendeu manifestantes, e desde então vêm realizando constantes repressões com balas de borracha e bombas de gás para tentar conter a fúria do povo paraguaio. Além disso, foram realizadas trocas de cargos do alto escalão. No dia 5, o ministro da saúde renunciou do seu cargo e os atos ganharam ainda mais força. No dia 6 foram trocados os ocupantes dos ministérios da educação e da mulher, além do chefe de gabinete. Entretanto, o movimento não se contentou com estas saídas e seguiu pedindo a renúncia do presidente.
Aliado de Bolsonaro
O atual Presidente do Paraguai já havia sofrido a tentativa de um processo de impeachment em 2019, quando veio à tona um acordo secreto de geração de energia pela Itaipu que desfavorecia o Paraguai. Na época, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, apoiou o paraguaio e o Planalto atuou para arrefecer o processo. O acordo de Itaipu foi cancelado e o processo de impeachment rejeitado. Hoje os dois países vivem uma condução desastrosa da pandemia, com graves perspectivas de ampliação do nível de catástrofe humana, sanitária, ambiental e econômica. Entretanto, a atuação de Bolsonaro para dividir os custos políticos da pandemia em meio à crise do capital com governadores e prefeitos, tem lhe permitido conduzir a população brasileira rumo ao abismo sem efetivas ameaças à sua estabilidade no cargo.
A semelhança da situação de catástrofe no país vizinho nos lembra da necessidade de atentar para as históricas condições que o capitalismo dependente impõe para os países da periferia, que inviabilizam a soberania nacional e a formulação de saídas originais e efetivas para essa situação dramática. Enquanto países centrais acumulam doses de vacinas para sua população, os demais sofrem com a política das patentes. Estas priorizam a comercialização, ao invés da rápida produção e distribuição da única perspectiva efetiva de contenção da contaminação e em um momento de avanço das variantes, o que pode vir a torná-las ineficazes.