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Número de startups de saúde dobrou na pandemia

Entre 2018 e 2020, o número de empresas foi de 248 para 542.

Imagem: edição UàE.
Por Morgana Martins, redação do Universidade à Esquerda
03 de novembro, 2021 11:50

O número de empresas privadas na área de saúde, mais comumente chamadas de startups, praticamente duplicou durante o período da pandemia, a maioria dessas ligadas a telemedicina. Entre 2018 e 2020, o número de empresas foi de 248 para 542. No mês de agosto de 2021, havia 919 startups no setor, que passaram a 945 no mês de setembro.

Uma startup é uma “empresa emergente” cujo objetivo é desenvolver ou aprimorar um modelo de negócio, geralmente são empresas com potencial de “inovação” e ligadas ao uso de tecnologias. As startups e sua linguagem para falar de um trabalho empregam termos que simulam o trabalho como uma coisa nova, apenas para aqueles que são verdadeiramente empreendedores. Mas, não é mais do que velha ideologia capitalista com uma nova roupa, mais “tech”. 

Em junho de 2021, entrou em vigor no país o Marco Legal das Startups e do empreendedorismo inovador, projeto de lei que tem por objetivo “desburocratizar” e “estimular” o setor por meio de um novo ambiente regulatório e de desenvolvimento das pequenas empresas. O projeto de lei foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, passou a valer a partir de setembro deste ano. 

Segundo o programa Ciência É Tudo, da TV Brasil, inclusive, esse formato de empresa tem um papel importante na implementação de políticas públicas nas mais variadas áreas, como saúde, educação e moradia. 

Denis Kuck escreve para o Valor Econômico que “a digitalização da economia, processo acelerado pela pandemia, estimula o surgimento de empresas na área de saúde e novos modelos de negócios e serviços”. Só esqueceu de dizer que essa “digitalização” é promovida por agentes, por grandes empresas. 

Promovida, por exemplo, por investidores. No 1° semestre de 2021, as startups no Brasil estavam batendo recorde histórico de investimento, enquanto o país ia de mal a pior. Os investimentos atingiram US$5,2 bilhões (isso mesmo, em dólares), ultrapassando em 45% o total investido em todo o ano de 2020.

Enquanto as startups trazem cada vez mais tecnologias que atingem uma mínima parcela dos brasileiros, cada vez mais brasileiros buscam comidas em caminhões de lixo, comem ossos e restos de comida, ou seja, cada vez fica maior a diferença entre as classes, porque uns pagam pela crise, outros prosperam com ela. Pensando no acesso da classe trabalhadora à tecnologia, esse exemplo chama atenção, pois sempre ficamos com os restos. E com um Sistema Único de Saúde (SUS) ruindo por falta de orçamento. 

Portanto, fiquemos atentos ao crescimento, produção e avanço desse tipo de empresa em nosso país, bem como façamos discussões sobre o papel e o objetivo da tecnologia em um país de capitalismo dependente como o nosso.

Ainda, cabe o questionamento: que sociedade construímos com o uso desenfreado de telemedicina? 


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