Nova York comemora fim da pandemia com fogos de artifício
O retorno econômico dos países será extremamente desigual, segundo o Banco Mundial
Por Helena Lima, redação do Universidade à Esquerda
24 de junho, 2021 Atualizado: 16:33
Na última semana, o estado de Nova York atingiu o marco de 70% da população adulta vacinada com ao menos uma dose. A taxa de positividade do covid-19 é de 0,4% no estado. O governador celebrou, então, o fim da pandemia, com a retirada das limitações pendentes e o uso de máscara obrigatório apenas em alguns estabelecimentos. A comemoração contou com um espetáculo de fogos de artifício e a iluminação de prédios icônicos da cidade com as cores de Nova York.
Para o incentivo ao turismo na cidade, os sem-teto que haviam sido realocados para hotéis irão retornar aos abrigos onde viviam entulhados. O lema do atual governador do estado, Andrew Cuomo, é o seguinte: “temos que capitalizar este momento para transformar e refazer Nova York”.
Nos Estados Unidos, o estado da Califórnia também deu fim às medidas de restrição na semana passada. Além disso, vinte e seis estados dos EUA vão eliminar seguros emergenciais de desemprego, com muitos governadores republicanos reclamando que as medidas estavam provocando a falta de trabalhadores em muitos setores com a reabertura das empresas.
Não só os Estados Unidos, mas aos poucos a maioria dos países desenvolvidos abandonam as medidas restritivas, com o avanço da vacinação e o declínio na curva de novas infecções. Segundo reportagem do Valor Econômico, as novas infecções nos países emergentes ultrapassaram as registradas no grupo de países ricos. Os jornalistas argumentam, ainda, que a retomada econômica nos países pobres acontecerá apesar da instabilidade sanitária.
“Os países em desenvolvimento se apressam em reativar suas economias apesar da fragilidade dos sistemas de saúde, o que gera temores de uma explosão de infecções.”
No Brasil, os escândalos da CPI colocam em debate a ineficácia na política de vacinação do governo Bolsonaro, sendo comprovado que uma maior parte da população já poderia estar vacinada e o número de mortes, reduzido. Hoje, nove capitais do país estão com a vacinação suspensa por falta de doses, no final de semana o país atingiu 500 mil mortos pelo covid-19 e apenas 30% da população recebeu a primeira dose da vacina.
O gráfico a seguir, produzido pelo The Guardian, mostra que as mortes nos países ricos estão caindo, enquanto o Brasil e a Índia se tornaram os novos focos da pandemia.
O primeiro encontro presencial do ano do G7 (EUA, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Japão e Alemanha) aconteceu na semana passada. A reunião ocorreu em meio à grande expectativa sobre a rápida retomada econômica dos países ricos com a vacinação e o fim da pandemia do covid-19.
Segundo relatório semestral do Banco Mundial, esta será a retomada mais rápida de uma crise econômica em 80 anos. Para os Estados Unidos, a previsão é de um crescimento de 6.8%, e na China, 8.5%.
Esse crescimento, no entanto, não é uniforme, segundo o relatório. Ao ponto que os países do G7, com a maioria da população vacinada, recobra a estabilidade e a “normalidade” anterior à pandemia, com as declarações de seu fim, nos países pobres o vírus continua se espalhando por conta da lentidão na aplicação das doses.
A previsão do Banco Mundial é de um crescimento de 2.9% nos países pobres, o mais devagar nos últimos 20 anos. Apenas um terço dos países subdesenvolvidos irá recuperar o nível do PIB anterior à pandemia do covid-19.
Michael Roberts, em seu texto recente: “Imperialismo se reúne em Cornwall”, apresenta ressalvas sobre o relatório do Banco Mundial. Em primeiro lugar, Roberts argumenta que o rápido crescimento será apenas um sugar rushpara os países centrais, possibilitado pela reabertura dos negócios, gastos fiscais e generosidade monetária dos bancos centrais. Ele afirma que é provável que após esta explosão na expansão econômica estes países retornem à sua linha lenta de crescimento tal qual o anterior à pandemia.
Nos países subdesenvolvidos, no entanto, nem a retomada aos patamares anteriores irá ocorrer, segundo o autor. Enquanto os incentivos fiscais, por exemplo, foram de mais ou menos 17% do PIB nos países ricos, nos países “em desenvolvimento” foi de apenas 5%.
Roberts ainda traz argumentos pertinentes em relação ao endividamento de mais da metade dos países pobres, sendo esse um fator para que a explosão econômica seja provisória. As dívidas desses países são uma ameaça à estabilidade econômica, isso porque a inflação nos bens de consumo está aumentando e a tendência é permanecer alta nos próximos doze meses.
Por fim, as medidas que poderiam auxiliar na recuperação econômica dos países subdesenvolvidos são ignoradas pelo G7, segundo Roberts, como a quebra das patentes nas vacinas e o abatimento das dívidas.
Em suma, a argumentação do texto de Michael Roberts é a de que, enquanto os países de capitalismo central comemoram com fogos de artifício sua retomada econômica, preocupados muito mais com sua corrida imperialista e retomada pós crise, sobra aos países pobres o acúmulo de dívidas e o avanço da pandemia, já que faltam vacinas.
“O bloco imperialista G7 está muito mais interessado em achar formas de isolar a China e a Rússia a fim de manter a hegemonia. O problema para o G7 é que, enquanto em 1970 as nações do G7 tinham cerca de 80% do PIB mundial, hoje representam apenas 40%”.