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Motoboys protestam contra pagamento injusto dos aplicativos e por condições de segurança na pandemia
Desde a chegada da pandemia de coronavírus no Brasil os motoboys entregadores de aplicativos têm realizado protestos em diversas cidades. Eles denunciam que os aplicativos baixaram o valor do frete durante a pandemia e não tem provido equipamentos de segurança como álcool gel, máscaras e luvas.
Em relato publicado pelo Coletivo Treta os motoboys contam sobre às condições duríssimas impostas pelos empresas/aplicativos:
A gente tem que fazer mais de 12 horas pra fazer o mesmo valor que fazia antes”; “Eu vejo que os aplicativos não tem um pingo de respeito por nós”; “20 Km, pra pagar 18 reais, isso existe?”; “Não dá nem pra comprar nosso pão desse jeito, não dá nem pra pagar a gasolina pra trabalhar”; “Tem vez que a gente fica o dia inteiro na rua e não ganha nem 10 reais, a gente paga pra trabalhar”; “Tem gente que entrega o dia inteiro e fica o dia inteiro com fome”.
Os trabalhadores tem protestado contra diminuição dos valores do frete, por melhores condições de trabalho, e de proteção na pandemia com fornecimento de equipamentos de proteção pelas empresas/aplicativos, e por bonificações pelo risco de contágio que correm todos os dias. Além disso lutam pelo fim dos desligamentos e bloqueios, que tem acontecido com muitos entregadores sem nenhuma justificativa.
Motoboys protestaram em São Paulo (SP), no dia 20 de abril reunindo de 200 entregadores que trabalham para diversas empresas (Ifood, Uber Eats, Rappi, Loggi). No dia 17 cerca de 100 trabalhadores fizeram uma manifestação na avenida paulista. Confira o vídeo produzido pelo Coletivo Treta:
Em Jundiaí (SP), os motoboys fizeram um ato no dia 01 de maio e estão chamando uma paralisação para o dia 30 deste mês. Protestos ocorreram também em Brasília (DF), Rio Claro (AC), Fortaleza (CE) e Niterói (RJ). Em outros países da América Latina também foram vistos protestos: Quito no Equador, Santiago no Chile, e Buenos Aires e La Plata na Argentina.
Em Niterói a manifestação ocorreu em 04 de maio em que os motoboys se reuniram em frente às barcas e paralisaram as atividades de entrega. O Coletivo Invisíveis publicou a denúncia de que um dos trabalhadores que participou do protesto foi desligado pelo Ifood, em clara ação de perseguição política.
Muitos trabalhadores têm nas entregas organizadas pelas empresas de aplicativo sua principal ou única fonte de sustento. Com o crescimento do desemprego, do arrocho salarial e da informalidade a situação dos trabalhadores é muito precária, e muitos recorrem aos aplicativos como única alternativa. O pagamento por entrega que já é baixo, e tendo abaixado ainda mais na pandemia, força os trabalhadores a dispenderem mais horas nas entregas, arriscando sua saúde e sua vida sem qualquer garantia.
Confira aqui mais relatos colhidos pelo coletivo treta: protesto do dia 17 de maio em São Paulo e condições de trabalho; sobre os desligamentos e dificuldades de pegar corridas; e registros dos atos em diversos países.
Pesquisa Remir
Uma pesquisa da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho), que foi noticiada pela BBC Brasil, apontou que os motoboys tiveram uma redução do salário durante a pandemia. A pesquisa entrevistou 252 pessoas de 26 cidades entre os dias 13 e 20 de abril por meio de um questionário online.
Destes 60,3% informaram queda na remuneração em relação ao período anterior a pandemia, e 27,6% informaram que os ganhos se mantiveram. Além disso, 72,8% dos entrevistados afirmou que recebe no máximo R$520 semanais durante a pandemia, enquanto no período anterior esse número era de 48,7%. Por último, 62,3% informaram não ter recebido nenhum equipamento das empresas para se prevenir do contágio.
Os pesquisadores ainda indicaram que as empresas devem estar ampliando o faturamento com o crescimento do comércio on-line devido a pandemia. Ou seja, as empresas estão ampliando seus lucros não só pelo aumento da demanda, mas principalmente ao custo do rebaixamento do valor pago aos motoboys.
Recursos Públicos
Enquanto isso, o governo federal e o congresso aprovaram o uso do fundo público para salvar bancos e grandes empresas com a emenda constitucional do orçamento de guerra. E ainda em março, o Banco Central indicou o uso de cerca de R$1 trilhão de reais em medidas para os grandes empresários.
Uma grande parcela da classe trabalhadora luta dia a dia para sobreviver, arriscando a vida e a saúde em troca de salários baixíssimos como os motoboys e outros trabalhadores informais. E os grandes empresários se aproveitam dos recursos públicos. E se os motoboys, os trabalhadores informais, e os com carteira também, pudessem decidir o que fazer com esses trilhões?