As manifestações de rua marcadas pela brutalidade policial e militar na Colômbia já assassinou mais de 50 manifestantes, deixou 500 desaparecidos e 2.000 feridos em quase duas semanas. Os protestos tiveram início dia 28 de abril contra o projeto de Reforma Tributária pelo governo de Iván Duque, que foi rechaçado por setores sociais e pela pressão dos manifestantes, que continuam nas ruas resistindo às sucessivas tentativas de silenciamento através da violência do Estado.
O esgotamento dos trabalhadores, dos camponeses, dos povos indígenas, da juventude e dos setores populares do país estamparam as placas, cartazes, camisetas com o “Não à reforma tributária” nas principais cidades alegando que a reforma promovida pelo governo Duque é “fome e miséria para o povo”. Os protestos ganharam corpo por todo o país com a adesão de diversos setores da classe trabalhadora, contando com petroleiros, caminhoneiros, professores, trabalhadores rurais, operários da mineração, jovens estudantes e povos originários para que o regime de Duque recuasse e voltasse atrás com a Reforma.
A Reforma Tributária chamada de “Lei de Solidariedade Sustentável” proposta por Duque já é a terceira apresentada em seu governo, somando estes ataques à reforma trabalhista sancionada no ano de 2020, pelo decreto 1174. A proposta apresentada no Congresso consistia em tributar os serviços públicos, alargar a base de contribuintes para mais três milhões de trabalhadores que hoje são isentos e aplicar o IVA (imposto sobre o valor acrescentado) a diversos serviços públicos, de forma a arrecadar cerca de 6,78 bilhões de dólares, em tentativa de manter contas fiscais em ordem sem afetar interesses dos setores que mais ganham fazendo a população mais pobre pagar pela crise.
A repressão policial e militar nas movimentações
As manifestações ocorreram tanto em pequenas quanto nas grandes cidades da Colômbia, como Bogotá, Medellín e Cali, sendo a última considerada o epicentro das manifestações e a qual possui mais registro de violência policial e militar contra os manifestantes, disparando contra estes armas semiautomáticas e fuzis.
Os assassinatos sistemáticos de líderes sociais e massacres indígenas são frequentes no país, que, conforme a reportagem do Esquerda Diario, desde 2016 já contabiliza a morte de mais de mil dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos. Cabe lembrar que a brutalidade e massacre do Estado contra a sua população está presente não somente nas ruas de Cali, mas tem marcado o povo Palestino com o terrorismo do Estado de Israel e a chacina do Jacarezinho.
A repressão por parte da polícia colombiana, estruturalmente vinculada ao Ministério da Defesa e denunciada diversas vezes pelos subornos associados ao narcotráfico, aumenta cada vez mais, com contenções cada vez mais violentas ao longo da história das paralisações: em novembro de 2019, quando as manifestações encheram as ruas em uma tensa paralisação nacional e em outubro de 2020, onde foram realizadas diversas manifestações contra a política econômica e social adotada pelo governo e contra a violência policial, paraestatal e do exército que levou 13 pessoas à morte.
Mesmo com a retirada do projeto de Reforma Tributária as manifestações continuam, expressando o clima de revolta com a situação no país tanto por conta da violência repressiva, do abuso de poder policial, militar e paramilitar com a qual pessoas estão sendo mortas e feridas nas manifestações pelos massacres inéditos, e também denuncia o esgotamento com a política econômica e social do Estado.
A política implementada no país é de miséria: de acordo com as estatísticas divulgadas pelo DANE (Departamento Administrativo Nacional de Estatística) nesta quinta-feira, o índice de pobreza monetária na Colômbia para 2020 aumentou 6,8 pontos percentuais e ficou em 42,5%, o que significa que 21,2 milhões de colombianos não têm renda suficiente para atender suas necessidades básicas. No total, quase 3,6 milhões de colombianos caíram abaixo da linha da pobreza no ano passado, como resultado da maior recessão econômica dos últimos 120 anos, decorrente da pandemia COVID-19 e das medidas do governo para conter o contágio.
Nesta quarta-feira, manifestações ocorreram em todo o país como foi o caso de Bogotá, onde milhares de pessoas cercaram o monumento Los Héroes, no norte de Bogotá, com bandeiras da Colômbia, música e cartazes contra a tropa de choque da polícia. Os manifestantes desenharam uma caveira em alusão ao presidente e a frase “inimigo público”.
No centro da cidade, indígenas lideraram um ato simbólico para mudar o nome da avenida Jiménez de Quesada – fundador de Bogotá – por “AV Misak”, em homenagem à sua comunidade.