Notícia
Memória: sete anos de lutas
Decidimos por celebrar este momento com um exercício de retrospectiva das lutas dos trabalhadores.
Hoje, 19/08, completamos sete anos de trabalho de nosso coletivo. Este dia marca a primeira publicação do jornal UFSC à Esquerda. Desde então procuramos servir as lutas da classe trabalhadora em direção ao socialismo com mais dois instrumentos: a Escola de Formação Política da Classe Trabalhadora – Vânia Bambirra (2016), e o jornal Universidade à Esquerda (2019).
Buscamos contribuir para análises socialistas e marxistas sobre a universidade brasileira e as lutas dos trabalhadores. Através do instrumento jornalístico, circulamos nossas análises e debates políticos para além do nosso coletivo, procurando ser parte do cotidiano de seus leitores, um elemento ativo na conjuntura política.
Para nós, o jornal tem um papel importante de ser um espaço de socialização da história das lutas da esquerda. Por meio do registro dos acontecimentos, das lutas dentro e fora da universidade, criamos uma historicidade que não encontraremos nos grandes jornais da burguesia.
Decidimos por celebrar este momento com um exercício de retrospectiva das lutas dos trabalhadores contra os ataques do capital e seu Estado a nossos direitos, condições de vida, e mesmo a nossa própria vida. Bem como as lutas em defesa da Universidade.
2019
Cortes orçamentários e a luta contra o Future-se
Em 2019, os cortes orçamentários estrangularam as universidades públicas. As universidades federais já sofriam com os cortes desde 2011. Com ampla precarização e sucateamento do funcionamento das IFES, o cenário se tornou insustentável. Ainda contra as universidades e institutos federais pesava a intrusão de interventores de Bolsonaro nas reitorias. Esta conjuntura levou milhares de pessoas em manifestações históricas no mês de maio e junho por todo o país.
Em julho, o governo Bolsonaro lançou um projeto para as universidades públicas: o Future-se. Este projeto ameaçou (e sua lógica ainda ameaça) gravemente as universidades públicas – restringindo a autonomia universitária e abrindo campo vasto para as privatizações.
Na Universidade Federal de Santa Catarina isto levou a um grande movimento, que teve seu ápice na greve dos estudantes contra o future-se e os cortes. Depois de um esforço amplo das bases dos cursos de mobilizar os estudantes, em uma assembleia universitária histórica, com mais de 5 mil membros da comunidade presentes (estudantes, técnicos e professores tanto dos campi central, quanto do interior), a UFSC disse não ao Future-se e deliberou por um indicativo de greve. Logo em seguida, mais de 72 cursos decretaram greve por tempo indeterminado, o que culminou com uma decisão conjunta dos estudantes da universidade (de todos os campi) pela greve. Uma greve que se estendeu bravamente por 37 dias e se espalhou com greves, paralisações e movimentos por outras universidades.
A greve ocorreu em larga medida em função da grande mobilização de base, dos estudantes em cada curso que não viam alternativas se não uma luta forte e radical contra a precarização e privatização da universidade.
2018
Greve dos caminhoneiros
Em 2018 os caminhoneiros de 24 estados do Brasil, além dos trabalhadores do transporte público, estavam em greve por conta do aumento gritante do preço do combustível. Os caminhoneiros realizaram bloqueios nas estradas e sua paralisação demonstrou a função indispensável desta categoria para o consumo de todas as famílias no Brasil.
Muitos caminhoneiros, ao longo da greve, começaram a reivindicar que a pauta do movimento deveria ser, também, uma intervenção militar. Esta conjuntura em todo país fez com que praticamente todos os partidos e organizações de esquerda se colocassem contra o movimento dos trabalhadores, alegando que era um movimento reacionário; ou no mínimo tomaram distância do movimento sem apoiar efetivamente os bloqueios e formar laços com os trabalhadores. No entanto, a falta de perspectiva demonstrava a falha da esquerda de apresentar outros caminhos, o que também ficou explícito na greve.
A luta pela redução do preço dos combustíveis poderia ser uma luta de todos os trabalhadores, afinal poderia impactar nos preços das cestas de consumo das famílias nas cidades. A forte greve botou em cheque a continuidade do governo Temer, e com a adesão de outras categorias importantes poderia ter conquistas significativas para o conjunto dos trabalhadores e alterar o cenário político. Nesse cenário, os petroleiros buscaram entrar em greve, lutando contra a precarização de seu trabalho bem como a política de preços da Petrobrás e às medidas privatizantes. O Estado do capital logo atuou com violência para frear a greve, e teve respaldo com o recuo dos setores majoritários da direção sindical.
#EleNão
Durante as eleições gerais que aconteceram em outubro de 2018, os protestos #EleNão, contra o candidato Jair Bolsonaro, tomaram as ruas do país. O projeto contra a vida das mulheres, dos negros e dos pobres, que hoje infelizmente enfrentamos, foi repudiado por milhares de brasileiros nas ruas. Era necessário, naquele momento, rejeitar por completo o programa do Bolsonaro na rua e nas urnas.
As manifestações #EleNão foram muito importantes para reviver as manifestações de rua que estavam sendo inexpressivas no ano de 2018. Cidades do Brasil e de fora do país se reuniram em atos gigantescos. Em Florianópolis, Santa Catarina, o protesto contra o projeto do Jair Bolsonaro reuniu 50 mil pessoas. Na UFSC, diversos cursos paralisaram as aulas para se organizar e lutar por outro horizonte, uma lição importante do laço da causa universitária e a luta dos trabalhadores.
2017
Greve Geral e Ocupa Brasília
A maior greve da história do país aconteceu dia 28 de abril de 2017, milhões de brasileiros aderiram a greve, o dia foi marcado por ruas bloqueadas, paralisação de ônibus e piquetes nas fábricas. Naquele momento, as centrais sindicais ameaçavam chamar uma greve geral por tempo indeterminado caso a reforma trabalhista e da previdência do governo de Michel Temer (PMDB) seguissem em andamento.
O movimento Ocupa Brasília aconteceu em maio de 2017. Caravanas de diversas regiões do país se reuniram na capital contra as reformas e o governo de Temer. Duzentas mil pessoas ocuparam a Praça dos Três Poderes e foram duramente reprimidas pela violência policial. A pressão, no entanto, fez com que a sessão da Câmara dos Deputados fosse paralisada naquele dia.
Apesar destes momentos, a perda mais significativa dos trabalhadores nas últimas décadas foi aprovada na Câmara e no Senado sem uma resposta à altura das forças de esquerda. A reforma trabalhista foi aprovada em julho de 2018. A reforma da previdência, proposta do Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, foi aprovada em outubro de 2019. A direção das maiores centrais sindicais esteve mais preocupada em negociar meios de manter o financiamento dos aparelhos, do que efetivamente mobilizar o conjunto dos trabalhadores contra estes duríssimos ataques.
2016
Atos contra o golpe
O golpe que retirou a presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores do poder em abril de 2016, respondeu em larga medida a uma pressão do capital por acelerar a agenda de ataques aos trabalhadores. O golpe estava anunciado há semanas, mas mesmo assim o próprio partido da presidente, e os movimentos e sindicatos sob sua influência direta como a Central Única dos Trabalhadores não se propuseram a qualquer mobilização real e efetiva.
Mesmo assim, os trabalhadores e estudantes foram às ruas por todo país. Manifestações tomaram as principais cidades em resposta ao golpe.
O governo Temer desferiu naquele ano duros ataques aos trabalhadores, aprofundando rapidamente o movimento de arrocho iniciado no governo de Dilma: a Proposta de Emenda Constitucional 241 (conhecida PEC do Fim do mundo, hoje Emenda Constitucional 95) e a Reforma do Ensino Médio. A emenda constitucional estabeleceu um teto de gastos para às políticas sociais, comprimindo ainda mais o orçamento e estrangulando direitos. A reforma do ensino médio por sua vez mostrou que o capital e o seu Estado querem uma educação esvaziada e técnica para formar os trabalhadores.
Frente a estes ataques os estudantes se levantaram. Primeiro um grande movimento de ocupação de escolas pelos secundaristas eclodiu por todo país. Num primeiro no estado do Paraná, que teve mais de 500 escolas ocupadas, o movimento se espalhou rapidamente e atingiu milhares de escolas no Brasil. A luta contra o teto de gastos e a reforma do ensino médio partiu das escolas, e tomou também às universidades. Logo os estudantes de graduação e pós ocuparam os campi das universidades.
Ocupações estudantis
A ocupação de escolas e universidade foi inspirada na forte mobilização dos estudantes em São Paulo em 2015. Os estudantes secundaristas mobilizaram 213 escolas públicas no estado contra a política do governador Geraldo Alckmin de reorganização do ensino público paulista e do então secretário da educação, Herman Voorwald. A proposta do governo era de separar as unidades escolares para que cada uma só oferecesse um ciclo da educação (fundamental I ou II e médio) e o fechamento de 94 escolas. Com essa política, 311 mil estudantes teriam que mudar de escola. As manifestações de rua e a ocupação das escolas conseguiram derrubar o Voorwald do cargo e impedir o plano de reorganização do Governo de São Paulo.
No final do ano de 2016, estudantes de diversos lugares do país ocuparam as suas universidades inspirados no movimento secundarista. Na UFSC, os estudantes ocuparam o seis centros da universidade e o Colégio Aplicação. Em novembro de 2016, professores, técnicos e estudantes da UFSC foram, juntos com os trabalhadores de todo o país, para Brasília lutar contra a PEC do teto de gastos (PEC do fim do mundo) e o projeto “Escola sem Partido” do governo Temer.
As ocupações na UFSC em 2016 demonstraram, apesar de suas dificuldades e fragmentações, a força da base estudantil frente à política conservadora da direção do DCE no momento. Esta foi uma experiência de luta muito importante para todas as categorias da universidade.
2015
Greve nas universidades
Em 2015, 50 instituições federais de ensino de todo o país, universidades e institutos, entraram em greve por conta do corte de cerca de R$70 bilhões no orçamento federal para a educação. Os professores denunciaram que os cortes no orçamento das IFES tinham como contraface a transferência em valores iguais ou superiores para os capitais em programas que atingiam tanto às universidades privadas como outros setores, a exemplo do FIES, Prouni e o Plano Safra. A greve durou 139 dias, quase cinco meses. O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino (ANDES-SN) teve um papel muito importante nesse momento. Em um mês, a greve já contava com a adesão de professores de mais de 35 instituições de ensino. Os técnicos administrativos em educação também aderiram ao movimento e construíram a maior greve da história da Federação dos Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil(FASUBRA) com duração de 133 dias e trabalhadores de 65 instituições paralisados.
Professores e TAEs lutavam pela recomposição do orçamento, a defesa do caráter público da educação e a garantia da autonomia universitária. Os professores discutiam que o projeto de ampliar o acesso ao ensino superior realmente aconteceu nos governos do PT; contudo, se deu no mesmo passo em que os recursos para as universidades que garantisse a qualidade do trabalho, do ensino e da pesquisa foram reduzidos drasticamente. Era preciso lutar para que isto fosse garantido em todas as instituições.
Na UFSC, os professores realizaram uma greve de vanguarda contra a direção conservadora que há anos está a frente da Associação dos Professores (APUFSC). Num processo tenso, contra a direção burocrática de plantão no sindicato dos TAEs, os técnicos em greve decidiram somar esforços com os docentes e criaram um comando unificado de greve. Com a circulação e a força do movimento pela universidade, estudantes de alguns cursos decidiram também pela greve. Naquele momento o movimento universitário lutava contra os cortes no orçamento mais do que por suas reivindicações particulares. Com isso debateu na universidade a política regressiva do capital e seu Estado para os trabalhadores, e realizou debates sobre a dívida pública, às isenções fiscais e transferências do orçamento público para o capital. E localmente enfrentou a reitoria por políticas de permanência, contra a sobrecarga de trabalho para docentes e técnicos – e principalmente denunciou que a direção máxima da instituição silenciou frente a um ataque brutal a comunidade universitária.
A greve foi derrotada nacionalmente. O governo cozinhou os grevistas para que o movimento perdesse força. Mas, a greve sinalizou que o movimento universitário não iria se resignar frente aos ataques.
Greve dos professores no paraná
Os professores do estado do Paraná protagonizaram uma grande luta em 2015. Depois de uma longa e vitoriosa greve que derrotou um pacote de medidas para desestruturar a carreira e arrochar os salários, os professores se puseram em luta contra um ataque do governo a previdência. No dia da votação da medida que sucateou o fundo previdenciário dos trabalhadores, milhares de professores foram às ruas e marcharam a assembleia legislativa do estado. O governo de Beto Richa (PSDB), com a conivência dos deputados estaduais, ordenou uma brutal repressão aos trabalhadores. Foram mais de 200 feridos.
Este momento marcou um conjunto de ataques aos professores que tem sido desferidos por diferentes governos estaduais e prefeituras aos professores nos últimos anos. A repressão brutal também tem sido marca dos governantes para enfrentar as lutas de resistência dos professores.
Luta contra a EBSERH, por permanência e infraestrutura na universidade
Desde 2011 o movimento universitário travou um conjunto de lutas contra a precarização e privatização dos Hospitais Universitários com a criação pelos governos petistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. O governo utilizou uma técnica de pressão política muito eficaz: como no Reuni em 2007, a adesão a empresa foi realizada por adesão de cada universidade. Isto levou que grande parte dos conflitos de oposição a empresa fossem realizados em cada instituição. Dura lutas foram travadas, mas pressionados pela diminuição dos orçamentos nos hospitais por um lado e pela forte repressão em várias universidades por outro – o movimento foi derrotado em grande parte das universidades.
Na UFSC, a reitoria foi pressionada pelo movimento a realizar um plebiscito com a comunidade universitária. Uma forte campanha foi realizada e a comunidade se opôs nas urnas a adesão a empresa. O movimento continuou pressionando para que a reitoria respeitasse o resultado do plebiscito e fez grandes atos nas sessões do conselho universitário que trataria sobre a matéria. Mesmo assim, a reitoria estava decidida a fazer a adesão e para evitar a pressão levou a reunião do conselho universitário para o quartel da Polícia Militar do estado de Santa Catarina. Lá os conselheiros puderam confortavelmente ignorar a comunidade universitária.
De todo modo, a força do movimento foi influenciado por um processo de rompimento com o imobilismo e o institucionalismo que eram fortes no movimento universitário e especialmente o movimento estudantil naquele momento. A reitoria da UFSC havia sido hábil para encapsular os movimentos em conflitos no âmbito da institucionalidade. Com suas particularidades, isto fazia parte de um processo político presente também em outras universidades, e no âmbito geral do movimento dos trabalhadores.
No início de 2015 estes processos, embora presentes até hoje, puderam ser colocados em questão. Uma greve das estudantes de pedagogia eclodiu frente às péssimas condições de infra-estrutura de seu prédio de salas de aula, e um importante movimento dos estudantes por permanência enfrentou a reitoria, chegando a ocupar o prédio da administração.
2014
Não vai ter Copa
Os gastos exorbitantes do governo da Dilma Rousseff em 2014 para que o Brasil sediasse a Copa do Mundo da FIFA foi repudiado nas manifestações Não vai ter Copa. Ao ponto que estádios ultrapassam o orçamento de 1,2 bilhão de reais, os trabalhadores lutavam dia após dia por uma infraestrutura decente de moradia, escolas, hospitais e transporte público.
O projeto nas cidades que iriam receber milhares de turistas foi de “glitterização” da vida da classe trabalhadora no Brasil. Se, por um lado, o governo gastava bilhões de reais em estruturas superfaturadas para a Copa, travava também de esconder as contradições latentes nas capitais urbanas brasileiras. Casos emblemáticos como os tapumes na frente do Morro do Alemão foram pautas dos movimentos que se organizaram para combater a política do governo Dilma e dos estados.
Bombardeios na Palestina
Os bombardeios na Palestina pelo Estado israelense em julho de 2014, que deixou centenas de mortos e milhares de feridos, tomou espaço nas grandes mídias por um breve momento. O conflito de décadas entre o povo palestino e a política de extermínio do Estado de Israel com apoio estadunidense tem tempo curto de centralidade nos jornais.
A violência do Estado de Israel sobre os palestinos, com mísseis invadindo escolas, hospitais e casas, e a consequente expulsão do território pararam de aparecer cotidianamente nas grandes mídias, mas a barbárie continuava. O papel da universidade, que parecia fechada aos problemas do nosso tempo, era de se debruçar sobre temas atuais como esse, com a orientação de bases teóricas fundamentais, para criar uma discussão cotidiana e densa sobre o massacre dos palestinos, dentro e fora da universidade.
2013
Jornadas de Junho
Após uma década de cooptação e apassivamento dos movimentos sociais, visando conciliar interesses radicalmente opostos dos grandes capitais e da classe trabalhadora, uma grande parcela da população brasileira rompeu com o Partido dos Trabalhadores e ocupou as ruas do país.
O aumento das tarifas de transporte público nas capitais foi o estopim para a ascensão de um movimento de massas, que se expandiu também em pautas que pediam que saúde, educação, mobilidade e moradia tivessem a mesma atenção e investimento que os megaeventos (copa, olimpíadas, dentre outros) estavam recebendo no país naquele momento.
O fato de que a esquerda, no campo do petismo ou fora dele, não estava preparada para lidar com o movimento de massas que surgiu e todas as suas contradições, permitiu que muitos dos significados dessa revolta pudessem ser capitaneados de forma oportuna pela direita (setores conservadores e em larga medida liberais).
A imensa revolta levou milhões às ruas nas grandes cidades, e também tomou cidades pequenas e médias. Com todas suas contradições, esse momento histórico mostrou a grande força da classe trabalhadora brasileira. É preciso relembrar que ele marca o início do esgotamento de uma forma de fazer política. E que essa forma de fazer política, em grande parte, foi o que no fim efetivamente contribuiu para que chegássemos nesse cenário delicado que hoje vivemos.
Movimento contra as Empresas Juniores no CFH
No Centro de Filosofia e Ciências Humanas, desde 2011, se tentavam implementar empresas juniores nos cursos de graduação, sem um processo de debate e reflexão acerca do que essas iniciativas significam dentro da universidade. Embora no conjunto da instituição esse rumo já estivesse sendo tomado a alguns anos, no CFH a escolha foi por colocar a proposta em debate.
A partir disso, se formou um forte movimento contrário as EJs, visando olhar para o significado das empresas juniores amparado pelos importantes debates sobre o papel da universidade, as políticas de empresariamento da educação e as consequências da lógica que estas políticas vêm impondo às instituições que cumprem a tarefa educativa. Além disso, houve uma intensa campanha, que sob o lema “eike resistir”, inspiração de uma música da banda “el efecto”, encheu o CFH com cartazes, panfletos e conversas repletas de instigantes questionamentos,
Após 3 meses de longa e profunda campanha com debates, rodas de conversa, passagens em sala e cartazes, a decisão sobre as EJs se daria através da democracia direta: uma assembleia de centro, que teria sua decisão ratificada pelo Conselho de Unidade. No dia 13 de Novembro, com o quórum histórico de mais de 500 presentes, algo que não acontecia há muitos anos naquele centro, o CFH disse NÃO às Empresas Juniores.
Cercamento da UFSC
O primeiro texto do UFSC à Esquerda analisava o cercamento da universidade implementado pela reitora Roselane Neckel, em 2013. Os estudantes, naquele momento, se depararam com cercas amarelas em todas as entradas do campus sede da UFSC. Era necessário criticar a posição de uma reitoria eleita por setores da esquerda que, apesar de muitas promessas, se mostrou mais do mesmo. No caso da segurança dentro da UFSC, esta Reitoria tomou a posição mais conservadora possível.
Aumentando a distância entre a universidade e os trabalhadores que a rodeiam, a contradição só poderia se acirrar. Para o caso da segurança dentro da universidade, diversas outras medidas poderiam ter sido tomadas: aumentar o movimento no campus, investir na iluminação dos caminhos e (ao invés de fechar) abrir a universidade para toda a cidade. Além de políticas à longo prazo, como o combate à especulação imobiliária e a mobilização do corpo universitário para apresentar saídas.
O cercamento foi acompanhando de um duro imobilismo dos movimentos universitários, e em especial o movimento estudantil que historicamente criticou e lutou contra propostas de fechamento do campus sede. O imobilismo também cercava a universidade. Este processo, com suas particularidades, era parte de um movimento de institucionalização dos conflitos, que levou o movimento estudantil e dos trabalhadores a estratégias equivocadas. Também era a normalização de uma direita de novo tipo na universidade, ultra-pragmática e individualista colocando a formação e a pesquisa a serviço de interesses empresariais sob a forma do empreendedorismo e da inovação.
Sete anos de lutas
Há sete anos, a despeito dos limites e dificuldades, os trabalhadores se fizeram presentes em grande escala nas ruas, nas greves e nos movimentos. Seja na luta contra os ataques do capital e seu Estado às condições de vida e a própria existência; com arrochos salariais, estrangulamentos de direitos sociais, aumento do custo de vida, ou com balas e bombas de seu aparelho repressivo. Seja, também parte disso, na luta pela causa universitária, contra os cortes orçamentários e seus efeitos nos campi, contra os ataques à autonomia universitária e pela produção de conhecimento com liberdade de crítica. As lutas que rememoramos são parte de muitas outras que foram travadas por nossa classe ao longo destes sete anos. Nossas derrotas foram grandes nesse intervalo, mas elas podem forjar as lições para que acertemos as estratégias para vencer a devastação do capital sobre a vida social e possamos lutar e construir uma sociedade sem classes.