Baseando-se no protocolo de biossegurança realizado pelo Ministério da Educação (MEC), nove estados mais o Distrito Federal já apresentam datas para a volta presencial das aulas na rede pública, sendo eles Maranhão, Rondônia, Tocantins, Rio Grande do Norte e Distrito Federal já para agosto e Acre, Santa Catarina, São Paulo, Piauí e Paraná para setembro.
O protocolo, que dispõe especificamente sobre a rede federal de ensino, está disponível no site do MEC e apresenta medidas como escalonamento, uso de máscaras e distanciamento de um metro e meio, mas por si só não garante a disponibilidade dos materiais necessários para que sejam cumpridas as medidas preventivas.
A situação de São Paulo talvez seja a mais ilustrativa sobre o significado do retorno presencial das aulas. No dia 16, em uma coletiva de imprensa, o secretário da educação, Rossieli Soares, afirmou que a retomada para o início de setembro geraria “apenas” 1557 mortes de crianças no estado — criticando os dados do professor titular da Escola de Matemática Aplicada Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Massad.
No seminário da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp) sobre coronavírus, ocorrido no dia 14, Massad havia apresentado previsões matemáticas sobre o impacto do retorno das atividades presenciais, em crítica a política de João Dória. De acordo com o professor, caso todo o país retomasse as aulas da mesma forma que São Paulo, 17 mil crianças morreriam.
A declaração do secretário de Dória deixa explícito que pouco importa quantos vão morrer. A retomada das aulas presenciais é essencial para que o comércio seja reaberto. Portanto, o clima de normalidade precisa vigorar sobre a pilha de cadáveres que a flexibilização das medidas de isolamento tem colecionado.
Em primeiro lugar, assim que a pandemia chegou ao Brasil, foi preciso adotar o ensino remoto e os teletrabalhos, a fim de minimizar o que o aumento exponencial de mortos significa.
Agora, na chamada fase “platô” da pandemia, onde estabiliza-se em altas taxas de morte e contaminação, as pessoas podem voltar a circular nas ruas, deixando suas crianças nas escolas, espalhando o vírus e movimentando a economia — mesmo que isso custe muitas vidas, enquanto a vacina não está pronta.
O ensino remoto está, desde o início do isolamento, intimamente conectado com a pressão para a volta presencial das aulas, sempre foi isso que o “novo normal” significou e nenhum governante ou gestor precisou falar abertamente sobre seus nefastos objetivos, vestindo-os com a roupa da modernização e reinvenção da vida pós-pandemia.
Não podemos permitir que banalizem a morte de quase 90 mil pessoas neste país, que a vida de nossas crianças seja tirada em nome da recuperação de uma economia em crise, e em crise justamente por o capitalismo não dar conta de nossos anseios como classe. O capitalismo se mostrou falho nesse período de pandemia e tem nos obrigado a entregar nossas vidas em nome da recuperação do lucro de grandes empresas.
A política que precisamos para a contenção dos danos da pandemia é de resguardo da vida sobre qualquer outra coisa. Estamos muito longe de qualquer tipo de normalidade!
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