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Em 28 dias, Brasil registra mais casos que Itália e Espanha no mesmo período; países com mais mortes causada pelo COVID-19

Foto: Alan Santos/PR
Por Luiz Costa, redação do Universidade à Esquerda
26 de março, 2020 Atualizado: 22:22

Hoje completa 28 dias desde que foi confirmado o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Nesta quinta-feira (26), o país atingiu 2.554 infectados e 59 mortes — em todas as regiões. No mesmo período de tempo, 28 dias, a Itália registrou 888 casos confirmados e 21 mortes e a Espanha, 32 casos e nenhuma morte. Atualmente, Itália e Espanha registram juntas 13,5 mil mortes, mais da metade do número de mortes em todo o planeta (22 mil).

Com o começo do surto na Itália, a população começou uma quarentena voluntária e prefeitos e governadores iniciaram diversas medidas preventivas, como o fechamento de escolas e a proibição de aglomerações. Mas logo em seguida o Chefe de Estado Giuseppe Conte contestou tais decisões, que segundo ele contribuíram “para gerar o caos”. Combatendo o suposto alarmismo a fim de proteger a economia e o lucro, o governo contrariou medidas preventivas. Hoje a Itália tem o maior número de mortes no mundo causadas pelo COVID-19.

Neste momento a Itália já atinge a marca de 74 mil infectados e 7.503 mortes, sendo que o número de casos deve ser muito maior, segundo o próprio governo, visto que já não é possível testar todos os casos suspeitos. Na Espanha, o governo de Pedro Sánche também tardou para tomar maiores medidas. Há duas semanas atrás, somente após 40 dias desde o primeiro caso confirmado, o governo começou a adotar medidas em prol do isolamento, mas já era tarde. Hoje a Espanha registra 56 mil infectados e 4.089 mortes — é o segundo país com maior número de mortes.

Na última terça-feira (23), Bolsonaro realizou pronunciamento em cadeia nacional onde contestou as medidas de isolamento, como fechamento de escolas e de serviços não essenciais. Chamando a doença causada pelo coronavírus de “gripezinha” e afirmando que só atinge pessoas acima dos 60 anos, Bolsonaro disse que “devemos voltar à normalidade” e “abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa”. Em todo o mundo, a medida que tem se mostrado mais eficiente é o isolamento a fim de conter a circulação do vírus. Mas o lucro e a economia aparecem como mais importantes.

Segundo Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, “o Brasil não pode parar dessa maneira (…) as pessoas têm que produzir, têm que trabalhar (…) Não podemos [parar] por conta de 5 ou 7 mil pessoas que vão morrer”.

E ele não é o único, pelo contrário, é apenas um representante de sua classe: a classe que vive do trabalho alheio. Segundo o Valor, 32 grandes empresários defendem plano similar ao de Bolsonaro para isolamento.

Isso mostra que o discurso do Bolsonaro tem base e não é mero devaneio solitário. Tanto ele quanto demais chefes de estados que intentam contra a vida dos trabalhadores estão cientes do que está em jogo. Mas a eles, o número mais importante não é o de mortos, mas o de lucros. Pois tais governos não governam para o conjunto da população, mas para aqueles que dependem do trabalho alheio, por isso, mesmo que a vida de milhares esteja em risco, “as pessoas têm que produzir, têm que trabalhar”.

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e podem não refletir a opinião do jornal.

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